No
regresso a São Paulo, após uma viagem
a Nova York onde acompanharam a maratona local, os amigos
Flávio Aronis, Fernando Nabuco e Victor Malzoni
Junior estavam convictos em criar uma associação
que, entre outras coisas, organizasse provas com o mesmo
nível da Maratona de Nova York.
“O
Fernando sempre foi um grande atleta em diversos esportes
e nessa época era apaixonado por corridas; O
Vitinho [Victor Malzoni] era um grande corredor,
assim como meu irmão Flávio. O tempo foi
passando e surgiram outras pessoas que se apaixonaram
pela causa, entre eles o Zeca Meirelles, o Vasco [Manuel
Arroyo], que tinha uma ligação muito
forte com a USP e foi um dos primeiros malucos, desse
grupo, que corria 1h30 sem parar”, lembra Octávio
Aronis.
Wanderlei
de Oliveira também estava junto a esse grupo
e lembra como se encontravam: “Percorríamos
10 km quase que diariamente”. Dessa forma e após
diversas reuniões entre 1981 e 1982, fundaram
em 3 de abril de 1982 a Corpore – Corredores Paulistas
Reunidos. Com a entidade fundada, estatuto elaborado,
e outras medidas tomadas, no dia 17 de abril a Corpore
partiu para trabalhar em dois focos principais:
- organizar provas bem estruturadas na cidade de São
Paulo;
- apoiar os atletas de elite, que na época não
podiam receber patrocínio de empresas.
A
primeira prova organizada pela Corpore
foi disputada na Cidade Universitária no dia
15 de maio de 1982, com vitória de Edson Bergara
e Eliana Reinert e completada por outros 684 corredores.
O
segundo objetivo da Corpore começou a ser atingido
quando os diretores conheceram Agberto Guimarães,
Joaquim Cruz, Zequinha Barbosa, entre outros
e a entidade começou a investir nesses atletas
que chegaram a ir treinar no Colorado.
Esses
grandes atletas disputavam provas por todo mundo representando
o Brasil e vestindo a camisa da Corpore. Nos Jogos Olímpicos
de Los Angeles, em 1984, Joaquim Cruz foi o vencedor
dos 800 metros rasos com 1m43seg00 e conquistou a primeira
medalha de ouro em pista para o atletismo nacional “A
oportunidade de representar um clube brasileiro na Europa
na melhor fase da minha carreira esportiva foi o maior
apoio que recebi da Corpore”, afirma Joaquim Cruz.
Todos
os envolvidos começaram a se empolgar cada vez
mais com os trabalhos da entidade e se voltavam para
a corrida de rua. Surgiu na época o Circuito
Bradesco de Corridas, organizado pela Corpore. A maioria
dos eventos acontecia no interior de São Paulo,
e isso já ocupava a Corpore com eventos quase
durante o ano inteiro.
Com
o passar dos anos, as coisas começaram a mudar.
Um fator primordial para isso foi a abertura de patrocínio
aos atletas de elite, fazendo com que a entidade perdesse
um de seus focos. Paralelamente a isso, os diretores
começaram a se dispersar.
A
entidade deixou de organizar eventos entre 1988 e 1991.
O
Recomeço
Assim
como na fundação da entidade, a Maratona
de Nova York foi o ponto de partida para o recomeço
nessa segunda fase. Alguns corredores que treinavam
no Parque do Ibirapuera e voltaram da Maratona de Nova
York se perguntavam como a cidade de São Paulo
não tinha uma prova e nem um clube de corredores
como em NY. A idéia de criar um clube foi se
solidificando e, no meio disso tudo, Wanderlei de Oliveira,
que fazia parte da primeira fase da Corpore citou a
existência da entidade e a possibilidade de reativá-la.
A
parte legal e fiscal da Corpore estava em perfeita ordem
e a entidade voltou a ativa com objetivos diferentes.
“O espírito da segunda Corpore era diferente
da primeira. O objetivo principal era fazer uma maratona
nos moldes de Nova York aqui em São Paulo e dar
um tratamento igual para todos os participantes dos
eventos, do primeiro ao último atleta”,
lembra David.
No
início não havia uma sede fixa e as reuniões
aconteciam em uma sala no Constâncio Vaz Guimarães,
onde os voluntários se disponibilizavam a fazer
tudo para realizar uma prova, cada um em uma área,
cada um em sua expertise.
As
primeiras provas e o surgimento do Circuito
No
ano de 92, quando a Corpore retomou suas atividades,
já foi realizada uma primeira prova. Ela aconteceu
na USP com a distância de 6km e trouxe um fato
interessante: não havia camiseta para todos os
atletas. “Tínhamos 200 camisetas e pensamos
em dar 100 para os corredores e as outras vendermos
para fazer nosso primeiro fundo de caixa. Acabamos tendo
mais participantes e não pudemos dar camiseta
para todos. Essa foi a primeira e única corrida
que isso aconteceu. Depois disso, dar medalha e camiseta
para todo mundo tornou-se uma diretriz”, lembra
David.
Mais
duas corridas aconteceram em 1992 e, no ano seguinte,
surgiu o primeiro Circuito Corpore,
que era disputado no Parque do Ibirapuera com provas
de 6km. O percurso era composto de duas voltas no lago.
Não existia um isolamento total do percurso e,
para a prova acontecer, a entidade contava com o apoio
da Guarda Municipal que ia a frente da prova, com a
sirene ligada avisando que o pelotão - que não
passava de 500 pessoas – estava vindo.
Ao
longo de 93 e 94 as provas da Corpore eram exclusivamente
no Ibirapuera. Apenas em 1995, no dia 25 de junho, que
foi feita a primeira prova da Corpore fora do parque,
A 1ª edição da São Paulo Classic,
mas mesmo assim a chegada acontecia dentro do parque.
Os
novos eventos
O número de solicitações para corridas
no Parque começou a crescer e, percebendo que
problemas poderiam acontecer e algumas provas deixarem
de ser realizadas, a Corpore começou a procurar
novas opções. A primeira prova
totalmente fora do Parque foi a do Centro Histórico
e depois foi a Corrida dos Bombeiros.
Nessa
segunda fase da Corpore começou também
uma preocupação em trazer eventos infantis.
As primeiras corridas infantis começaram
no próprio Parque, onde havia baterias com crianças
ao final de alguns eventos.
Já
na USP, começaram a ocorrer algumas provas com
chegada no Velódromo, e lá dentro se fazia
as corridas infantis. Na medida que crescia o número
de adultos e crianças tornou-se impossível
fazer essas provas acopladas e as corridas infantis
ficaram algum tempo sem ter edições. “Retomamos
a corrida exclusiva para crianças no próprio
Velódromo e depois fomos para o Constâncio
fazendo essa prova como uma forma de incentivo, de estímulo,
não de competição. Queremos que
as crianças sejam picadas pelo bichinho da corrida”,
afirma David.
Clube
de corredores
A identificação entre o corredor e a Corpore
sempre foi evidente, mas em 1997, se iniciou uma campanha
para ter associados e a entidade tornar-se realmente
o representante dessa comunidade que começava
a crescer.
Criou-se
então uma carteirinha de associado para que os
corredores pudessem se sentir parte da Corpore. Essa
carterinha, no início, foi entregue para os interessados,
que tinham apenas que solicitá-la.
Aos
poucos foram sendo criadas ações para
os associados, entre elas descontos em estabelecimentos,
em inscrições, treinos assistidos, entre
outros. Foi em 1998 que surgiu o primeiro Ranking
Corpore, exclusivo para sócios.
E
foi para os associados que surgiram as provas
de aventura. A primeira foi a Ilhabela Corpore
Terra & Mar. Dois anos depois foi realizada a primeira
edição da Corpore Campos do Jordão
– Corrida e Bike na Montanha.
A
profissionalização
Depois de 10 anos sendo tocada exclusivamente por voluntários,
a Corpore teve de tomar uma decisão: manter a
mesma estrutura e os mesmos eventos ou partir para novas
experiências e acompanhar o crescimento das corridas.
Foi decidido tomar o segundo caminho e, para isso, havia
a necessidade de se partir para a profissionalização.
Já
com sede na rua Bento de Andrade, 436, o início
da profissionalização se deu quando Armando
Santos, que já era voluntário Corpore,
foi efetivado como diretor executivo da entidade.
Apesar
de contar com uma estrutura enxuta, foi montada uma
equipe com pessoas qualificadas que, em constante relacionamento
com o conselho diretivo, consegue até hoje cuidar
do dia-a-dia da entidade.
A
partir daí, novos eventos foram sendo incorporados
ao calendário Corpore e, para ajudar nessa divulgação,
facilitar as inscrições e levar todas
as informações necessárias para
a comunidade foi desenvolvido o site Corpore,
que hoje tem mais de 300.000 visitações
por mês.
Aos
poucos, a entidade foi crescendo e o movimento das corridas
de rua também. A Corpore foi se tornando conhecida
por fazer diversos eventos de alta qualidade e se tornou
centro de referência.
Recentemente,
a Corpore esteve presente no Congresso Mundial da AIMS,
realizado em Xiamen, na China, e apresentou a candidatura
da cidade de São Paulo para receber a próxima
edição do Congresso, vencendo o pleito
e conseguindo trazer pela primeira vez esse evento para
uma cidade da América Latina. O 17º
Congresso Mundial da AIMS acontece em abril
de 2009, juntamente com a Meia Maratona Corpore da Cidade
de São Paulo.
“Quando
olho nossos objetivos vejo que os ultrapassamos muito,
não imaginava que poderíamos chegar onde
chegamos. O anseio das pessoas pela corrida em si nos
ajudou a isso e o respeito aos corredores também”,
afirma David.
Objetivos
alcançados e ultrapassados, obstáculos
superados. Tudo isso que foi contado aqui é uma
parte da história da entidade que chega agora
aos seus 25 anos de existência. Ainda há
muitos anos e quilômetros por vir...