Um
sucesso. Essa é a forma mais simples e objetiva de
informar como foi o inédito Desafio Castelhanos, evento
realizado na cidade de Ilhabela na manhã de 14 de julho.
“O evento deu certo e percebemos quando as coisas dão
certo quando a energia positiva vai fluindo do início
ao fim. Essa energia esteve sempre presente. Esse é
um evento vencedor”, afirmou David Cytrynowicz, presidente
da Corpore, ao final da premiação.
Com
certeza, quem participou e acompanhou o evento, o terá
guardado na memória por muito tempo. Os motivos podem
ser os mais diferentes para os participantes, apoiadores,
organizadores, mas uma prova como essa marca cada um dos presentes.
E, como aconteceu com o Desafio Castelhanos, o importante
em algumas provas não é só o lado esportivo,
mas também o lado social, que foi muito trabalhado
junto à comunidade de Castelhanos, que foi envolvida
em toda a prova, com membros da comunidade trabalhando nos
postos, recebendo os atletas e até com um dos pescadores,
o Nikinha, participando e completando os 44km com uma história
emocionante que você pode ver com maiores detalhes na
seqüência dessa matéria.
A
prova
Na
manhã do sábado, a arena montada ao lado do
Hotel Ilha Flat começou a receber os atletas inscritos
e seus familiares às 6h. Com muita tranqüilidade,
os participantes retiravam seu número de peito e costas,
além do chip de cronometragem. A essa hora todos os
postos de hidratação já estavam prontos
aguardando os atletas, além dos postos de Gatorade,
personal needs e troca de tênis (este somente para os
atletas dos 44km).
Nos
minutos que antecediam a largada, os atletas faziam seu último
alongamento e já pensavam no que os aguardava nos quilômetros
que iriam enfrentar. “Estivemos aqui na prova da Ilhabela,
mas não corri o trecho de Castelhanos. Já fiz
o percurso de jipe e sei que vai ser difícil. Acho
que vai ter muito morro, muita descida, muita terra, muito
buraco, mas é isso aí. O nome já diz
tudo: Desafio”, afirmou Flavio Hernandes, participante
do Desafio Topo.
Exatamente
às 7h, os 118 atletas que compareceram na prova largaram
em direção ao morro de Castelhanos. Os primeiros
quilômetros da prova ainda eram disputados no asfalto,
passando pelo bairro do Cocaia e seguindo para o Parque Estadual
de Ilhabela. A estrada que leva ao parque já é
de terra e a mata começa a ficar mais fechada, fazendo
com que os atletas encontrassem alguns rios, bicas e cachoeiras.
“Corremos ouvindo os passarinhos ainda acordando, começando
a cantar, tivemos um belo contato com a natureza...”,
contou Tuto, morador da Ilha e o coordenador da parte da natação
na Ilhabela Corpore Terra & Mar, que esse ano teve sua
7ª edição.
Depois
de aproximadamente 12km estava localizado o Topo, onde era
feita a divisão dos atletas: os dos 24km faziam o retorno
e desciam de volta; os dos 44km seguiam reto e desciam para
Castelhanos, encontrando um terreno bem mais acidentado.
Os
primeiros atletas a chegarem no topo estavam disputando os
24km. Três atletas chegaram juntos e decidiram a prova
na descida, sendo que quem se deu melhor foi Elias Batista
de Oliveira. “Não sou muito forte de subida,
então só administrei e deixei o pessoal puxar.
Virei em segundo lugar e como sou forte na descida dei tudo
para chegar aqui no plano com vantagem. Faltou um pouco de
energia no final, mas com muita raça consegui completar
a prova mesmo com o segundo colocado me sufocando. Toda a
organização está de parabéns e
ano que vem quero voltar para tentar o bicampeonato”,
afirmou o atleta que ainda teria que voltar para o trabalho
a tarde. A beleza do percurso fez com que Elias traçasse
planos para voltar à Ilha antes mesmo da próxima
prova. “Vim para a Ilha pela primeira vez e gostei muito.
Espero voltar não só pra competir, mas para
passear também”.
O
segundo colocado foi Wilson Gomes de Jesus, atleta da Ilhabela
e que conhecia bem o percurso. Através do seu conhecimento
fez uma estratégia para a prova, mas não esperou
encontrar Elias no caminho. Mesmo com o segundo lugar, Wilson
ficou feliz com a realização da prova. “Provas
aqui como a Corpore faz são fundamentais. Assim os
atletas daqui podem participar, pois muitas vezes não
têm condições de sair daqui para correr
em outros lugares.”
Entre as mulheres, Selma Nakakubo, foi a primeira
a cruzar a linha de chegada, onde seus pais a aguardavam.
A segunda colocada foi Sonia de Freitas Gomes, atleta que
junto do seu marido, o atleta Gustavo Eduardo Levy Coelho
Junior, participa de todos os eventos organizados pela Corpore.
“O evento é bárbaro. Essa é a prova
inaugural, quem correu, correu. Outros podem correr a 2ª,
3ª, mas a inaugural só quem esteve aqui.”
Aos
poucos, um a um os atletas do Desafio Topo chegavam, retiravam
seu kit e aproveitavam o café – da – manhã
que a Corpore organizou para os participantes.
A
praia de Castelhanos
Enquanto
isso, os participantes do Desafio Topo & Praia ainda tinham
uma grande parte do percurso para percorrer. Na descida para
Castelhanos os atletas encontravam ótimos cenários
e um terreno que mostrava o que era uma prova de aventura.
Antes
de chegar na praia de Castelhanos, os atletas atravessavam
um rio. Era aí que estava localizado o posto de troca
de tênis, no qual os atletas que quiseram deixaram um
outro par de tênis para trocar na volta da praia. Mas
o que muitos corredores fizeram, na verdade, foi deixar o
tênis nesse local e atravessar o rio e correr pela praia
descalços.
Sol, céu limpo e a linda praia de Castelhanos
criaram um magnífico cenário para os atletas
que resolveram encarar os 44km de prova. Com muita festa,
os moradores da comunidade recebiam os corredores, que faziam
o retorno na praia para encarar a subida de volta ao topo
e depois a descida até a linha de chegada.
O primeiro a conseguir fazer todo o percurso
foi um atleta da Ilha, Evaldo de Jesus Souza. Logo atrás
estava Wanderlei Rodrigues de Carvalho que chegou com muita
descontração: “Agora vou tomar uma cervejinha.
Estou com fome, vontade de beber, cansaço, devia ter
morrido que era melhor... mas valeu a pena. Terminei bem,
graças a Deus. A prova é ótima e o visual
é lindo.”
A
beleza do percurso parecia animar os atletas, pois Maria Claudia
Ferreira Souto, vencedora dos 44km também estava empolgada
e descontraída quando completou a prova. “Delícia
a prova, maravilhosa! É difícil, mas quando
chegou no topo vim muito forte. Nem batedor me segurou!”
O sentimento de que o evento foi um sucesso
e que outras edições virão era geral.
Paulo Anselmo Rocha Lacerda, afirmou: “O visual lá
é lindo. Essa prova vai pegar, com certeza teremos
muito mais atletas ano que vem.” Para Nilton Cesar Ferreira
Leite, que corre como Guia Voluntário em provas da
Corpore, “foi lindo e muito satisfatório”.
O técnico Branca acabou resumindo todas
as impressões que teve da prova: “A prova é
muito boa, com bom apoio, estávamos seguros, hidratação
perfeita, as pessoas se ajudando. No geral a nota é
100!” e ainda complementou: “Para quem está
treinado dá para fazer a prova tranquilamente”.
A
participação de Nikinha e a comunidade
de Castelhanos
Mas
a prova só acabaria quando o último atleta cruzasse
a linha de chegada. E esse foi um dos momentos mais emocionantes
da prova. Para entender o motivo, teremos que voltar e contar
um pouco sobre a organização da prova e o contato
que a Corpore teve nas últimas semanas com a comunidade
de Castelhanos.
Sempre que a Corpore faz um evento fora de
São Paulo, tenta envolver a comunidade local com a
organização do evento. Nessa prova isso não
foi diferente e a comunidade de Castelhanos foi envolvida,
sendo que para isso aconteceram algumas reuniões entre
representantes da Corpore e da comunidade local.
Em
um desses encontros, um dos pescadores quis saber se alguém
de Castelhanos participaria da prova correndo, o que deixou
os representantes da Corpore surpresos. Marcelino de Souza,
o Nikinha e mais 3 pescadores se inscreveram na prova, mas
apenas Nikinha acabou enfrentando o Desafio.
No dia anterior a prova, representantes da
Corpore foram até a comunidade de Castelhanos entregar
doações solicitadas por eles. Mas se engana
quem pensa que as doações foram coisas exorbitantes.
Eles pediram apenas bolas de futebol e vôlei, rede de
vôlei e pranchas de surf. “Surgiu uma proposta
social junto com a Corpore e os moradores daqui solicitaram
doações voltadas ao esporte. Tendo esse material
conseguimos preencher o espaço das pessoas com coisas
saudáveis. O esporte chegando aqui é muito legal
porque eles observam atletas e muitas vezes não tem
a oportunidade de praticar. Com a chegada da Corpore, as pessoas
começaram a correr aqui na praia”, afirmou Marcos
Aurélio Alves Nascimento, funcionário do Parque
Ambiental de Ilhabela e responsável pela integração
da comunidade de Castelhanos ao evento.
Durante
a entrega, via-se a felicidade estampada no rosto de cada
um dos moradores de Castelhanos presentes, desde as crianças
até os mais idosos.
Nesse
mesmo dia, Nikinha pegou uma carona para ir até o outro
lado da Ilha e de lá largar no dia seguinte. A expectativa
dele não era ser o vencedor, muito menos fazer um bom
tempo, mas sim servir de exemplo para as crianças e
mostrar que eles poderiam fazer o que quisessem com força
de vontade. E foi isso que Nikinha mais demonstrou. Ele nunca
havia participado de alguma prova, não tinha nem um
tênis (recebeu uma doação da Corpore vinda
do projeto Seu
Tênis Não Pode Parar), mas mesmo assim, às
7h da manhã estava posicionado na linha de largada
aguardando para completar esse Desafio.
O momento em que ele chegou na metade da prova,
ou seja, na praia de Castelhanos, foi emocionante para quem
viu. As crianças corriam ao lado dele, incentivando
e querendo seguir o mais novo atleta. “Na praia os garotos
correram comigo e já me perguntavam quando eles poderiam
correr na prova. Falei que daqui uns 2 anos eles poderão
correr.”
Mas
um pouco a frente, quando faltavam 18km de prova, Nikinha
começou a ter câimbras e o pensamento de desistir,
quando ali o esperava o diretor médico da Corpore,
Milton Mizumoto. “Quando faltavam 18km ele estava com
câimbras e disse ‘Minha corrida acabou aqui’.
E eu disse ‘Não acabou não, você
vai continuar’. Lembrei então, que ele havia
assumido o compromisso, com as crianças da Comunidade
de Castelhanos, de findar a prova e falei que correria com
ele até o fim. Fomos indo e fui contando histórias
de corridas, ultra-maratonas, câimbras para ele saber
que era capaz. Fomos alongando, dando carboidrato, mudamos
a técnica de corrida, trotamos e fui ensinando um pouco
do que aprendi como corredor e médico. Ele foi adquirindo
confiança e quando faltavam 1000 metros falei que iríamos
chegar correndo. É muito gratificante poder passar
conhecimento e ver essa conquista”.
E foi dessa forma que Nikinha conseguiu completar
o percurso. Com muita festa ao lado dele, motos, ambulância,
David, Armando Santos e Milton correndo juntos, apoiando Nikinha
em seus últimos metros. Ao passar pela linha de chegada
e ver aquela festa, ele parecia não acreditar. “Primeira
vez na prova é muito bom! Queria ver se agüentava
e se não fosse a câimbra chegava antes. Estou
feliz de ter completado a prova. Aos trancos e barrancos,
mas cheguei. Foi bom pra comunidade. Agradeço a Corpore
pela chance de participar da prova”.
Premiação
Na mesma noite, no Race Village foi realizada
a premiação da prova. A grande maioria dos participantes
estava lá e puderam ouvir as histórias que envolveram
a realização da prova, além de presenciar
a entrega dos troféus aos vencedores gerais e das faixas
etárias.
O
primeiro a receber um troféu foi o próprio Nikinha,
que muito emocionado subiu ao palco para receber a homenagem
das mãos do dr. Milton.
Durante
a premiação, David mostrou trechos do relatório
feito por Marcos no qual ele indicou pontos positivos que
o evento trouxe para a comunidade de Castelhanos como:
Todos os moradores se alegraram com o evento;
O evento despertou muito interesse sobre o atletismo;
Os pescadores estão pensando em criar um grupo para
tratar do esporte na associação deles;
Pela primeira vez um morador da comunidade teve oportunidade
de participar da corrida com apoio da organização.
“O envolvimento da comunidade foi impressionante
e o pouco que trouxemos foi muito para eles. Tenho certeza
que sementes foram plantadas”, afirmou David, mostrando
que esse evento além de uma grande festa esportiva,
teve um lado social extremamente forte, seguindo mais uma
vez a missão da Corpore: Divulgar saúde, educação
e cidadania através da corrida e caminhada.