17 de setembro de 2007, David Cytrynowicz, Presidente da Corpore,
teve uma noite notadamente importante. Recebeu o Título
de Cidadão Paulistano na presença de familiares,
amigos e autoridades em virtude de uma vida dedicada ao estudo,
ao trabalho e ao esporte.
A
Sessão Solene de entrega do Título de Cidadão
Paulistano aconteceu no Palácio Anchieta, no Plenário
1º de Maio e começou às 19h30 quando o
Vereador Aurélio Miguel, responsável pela iniciativa
da entrega do título, iniciou a sessão que teve
a mesa composta por Éder Jofre, General de Divisão
João Carlos Vilela Morgero (Comandante da Segunda Divisão
de Exército), representando o Comandante Militar do
Sudeste, General de Exército Antônio Gabriel
Esper, Amadeu Armentano (Presidente do Conselho Deliberativo
da Corpore), Octávio Aronis (Vice-Presidente da Corpore)
e o Professor Carlos Gomes Ventura.
Após
a execução do Hino Nacional, Amadeu Armentano,
amigo de longa data de David, foi o primeiro a discursar fazendo
a saudação ao agraciado, discorrendo sobre o
surgimento da cidade de São Paulo e enaltecendo as
obras e serviços prestados diariamente por David com
“naturalidade, naturalmente”, como dito em seu
discurso. “O que se fez foi colocar a público
aquilo que nós já conhecemos há mais
de 15 anos. Não é um título de cidadania
dado por necessidade política ou por acordo, ou por
qualquer outra coisa, foi por mérito, mérito
mesmo. O David vale quanto pesa, nós já estamos
juntos há quase 20 anos, estamos cumprindo mais uma
encarnação juntos e esperamos terminá-la
da mesma forma como começamos: juntos”, afirmou
Amadeu.
Na
seqüência, Aurélio Miguel tomou a palavra
e mostrou aos presentes um pouco do vasto currículo
de David, indicando obras do mais novo Cidadão Paulistano
na administração, na psicoterapia e nos esportes,
entregando então o merecido Título.
Emocionado,
David fez um discurso agradecendo seus pais e contando um
pouco mais da sua história, trazendo para os presentes
fatos que poucos imaginavam na vida do agraciado. Nascido
na Alemanha e vindo para São Paulo aos 6 anos de idade,
David disse que por muito tempo se sentiu em uma condição
de “apátrida”, como seu pai também
se sentia. “Talvez, para muitos de vocês, seja
difícil entender a profunda importância que ser
‘Cidadão Paulistano’ tem para mim. Eu nasci
em um campo de refugiados, mas não me sentia um refugiado.
Há poucos anos, vendo um documentário, descobri
que a sigla usada nos campos de refugiados, como o que eu
nasci, era D.P.Camp – Displaced Persons Camp (Campo
de pessoas fora do lugar). E isto esclareceu perfeitamente
o meu sentimento, pois, ser refugiado é ter horizonte
da volta ao lugar de origem. Eu não era refugiado,
não me sentia refugiado, não tinha lugar de
origem para voltar. Me sentia “displaced”, isto
é, aquele que não tem lugar, que está
fora do lugar, desalojado.
Por aí, talvez, fica mais clara a importância
que é, para mim, receber o reconhecimento de um lugar
como sendo o lugar que me é concedido em nome de minha
trajetória. Ser ‘Cidadão Paulistano’
me dá o orgulho de expressar minha cidadania de homem
do mundo a partir do lugar onde cresci, me casei, nasceram
os meus filhos e a minha neta e onde, hoje, nasci eu”,
disse David em seu discurso.
Walter Feldman, Secretário Municipal de Esportes, Lazer
e Recreação, também esteve presente e
tomou a palavra para dar os parabéns não só
pelo título que David acabara de receber, mas também
pelo belo discurso que fizera.
Com
a Sessão encerrada, familiares, amigos e as autoridades
presentes puderam cumprimentar o Presidente da Corpore por
mais esse título e comemorar com ele esse dia tão
importante em sua vida, o “nascimento como cidadão
paulistano”, conforme o próprio afirmou. “Para
mim hoje é só emoção! Eu me preparei
bastante, mas basicamente para poder passar um pouco do que
foi minha trajetória, minha formação
e do que são meus valores e a identificação
desses valores com os de todos aqueles que junto comigo hoje
levam a Corpore. Eu tenho certeza que isso não é
um trabalho, é uma missão e uma missão
que a gente faz com muita satisfação”.
Confira
abaixo a íntegra dos discursos de David Cytrynowicz,
Amadeu Armentano e do Vereador Aurélio Miguel.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao vereador
Aurélio Miguel pela honra da indicação
do meu nome, bem como a toda a sua equipe pelos esforços
subseqüentes e que resultaram nesta homenagem que
recebo.
É com enorme satisfação e emoção
à flor da pele que estou aqui, diante de vocês.
Este é um momento que me obriga a lançar
um olhar panorâmico, revendo minha trajetória,
tentando compreender a tessitura que aqui me trouxe.
É impossível iniciar esta revisão
senão por aqueles que, aqui, sinto agraciados
junto comigo, meus pais. Fundamentais em meu percurso,
tanto na existência concreta, quanto nos valores
que me marcaram desde a minha mais precoce lembrança
e que até hoje ainda são inspiração.
Em 23 de julho de 1916, nasceu o meu pai Artur em Lodz,
centro industrial da Polônia e 2ª cidade
depois de Varsóvia. Em Lodz, vivia uma enorme
comunidade judaica e meu pai era o 2º filho de
uma família de nove filhos. Ele era o mais velho
entre os homens e a sua época de crescimento
e formação se encontra entre os poucos
anos que separaram as duas grandes guerras do século
20.
De origem pobre e profundamente comprometido com a sobrevivência
de toda a família, desde cedo, ele começou
a trabalhar com o meu avô Jeremias, no ofício
de pedreiro. Mas, de personalidade inquieta e empreendedora
e de profunda visão, concluiu o curso técnico
de mestre de obras, assumindo, então, a frente
dos trabalhos que juntamente com meu avô executava.
Ainda muito jovem, já era a referência
de trabalho, tomando a frente do cuidado de toda a família,
situação que se estendeu até a
sua morte em 1983.
Em 10 de março de 1923, nasceu a minha mãe,
Maria em Lipovietz, vilarejo perto de Vinitza, onde
passou a sua infância, alguns poucos anos após
a revolução Bolchevique. Esta cidadezinha
situa-se próxima de Kiev, capital da República
da Ucrania, que integrava a então União
Soviética. A minha mãe era a caçula,
depois de três irmãos homens.
Os contrastes entre os lugares de nascimento de meus
pais e as suas respectivas personalidades se fundiram
e marcaram profundamente a minha própria maneira
de ser:
Meu pai - que cresceu numa grande cidade fabril, com
todos os contrastes, desigualdades e oportunidades e
tendo que lutar pela sobrevivência e provisão
da família
E, minha mãe, vivendo numa cidadezinha pequena,
no início de grande transformação
e fechamento para o mundo externo e, apesar de toda
a precariedade do período, tinha como caçula
e filha única, regalias e mimos que a transformaram
numa mulher afetiva, cuidadosa e extremamente solidária
com todos os seus familiares e inúmeros amigos
que conquistou ao longo de sua vida. Quando a guerra
eclodiu cursava Letras, após ter abandonado o
curso de Medicina, no primeiro ano.
Como se conheceram? Como eu entro nesta história?
Em 1938, meu pai se alistou no exército polonês.
De constituição franzina, após
meses de esforço para engordar e passar nas medidas
mínimas de peso, ele foi aceito como recruta.
Em 1939, com a invasão da Polônia, em poucos
dias o exército polonês foi dizimado e
os sobreviventes tinham a opção de ficar
na Polônia ocupada pelos nazistas ou irem para
a URSS. Meu pai passou toda a guerra na URSS, grande
parte na Sibéria, trabalhando em tarefas de infra-estrutura,
como construção de ferrovias e outros
trabalhos forçados a que eram sujeitos todos
os refugiados. Neste tempo, meus pais se conheceram
e, ao final da guerra, se casaram e saíram da
URSS em busca de um lugar para viver, trabalhar e construir
o futuro.
Vão primeiramente para a Polônia, mas,
ao se darem conta do controle soviético, seguem
a sua busca.
Em seguida, juntamente com outros irmãos, chegam
à Alemanha e são alojados em um dos inúmeros
campos de refugiados e apátridas que esperavam
encaminhamento para algum país que os aceitasse.
Havia todo tipo de restrição e cotas dos
países para receberem judeus que não mais
tendo Pátria, buscavam um lugar que os acolhesse.
Esses campos aliados eram supridos, principalmente,
pelos americanos.
Em maio de 1947, nasci no Campo de Refugiados de Leipheim,
vilarejo de Günzburg, próximo da cidade
de Ulm, na Baviera.
Nasci e fui criado ouvindo as histórias da 2ª
Guerra, mas, principalmente, ouvindo as histórias
dos dramas humanos que implicavam em escolhas de vida
ou morte, e ficava fascinado com o faro para a sobrevivência,
e o espírito empreendedor e arrojo de meu pai.
Foi na Alemanha que ele conseguiu cidadania, a alemã,
para toda a família, e iniciou o negócio
têxtil com o qual se envolveu ao vislumbrar oportunidades
que o pós-guerra oferecia aos que podiam ver
e empreender.
Vivi até quase seis anos em Ulm, de onde, em
1953, emigramos.
Nesta época, sob a liderança de meu pai,
a família havia construído uma malharia
que empregava 350 funcionários.
Por que sair da Europa, em 1953, se já tinha
conseguido cidadania e prosperidade, junto com toda
a família?
Com o início da Crise da Coréia, em 1952,
meu pai decidiu que não viveria uma outra guerra.
Assim, começou uma nova peregrinação
em busca do país ideal para viver. Passou, então,
meses, entre viagens e pesquisas do país que
seria bom para nós, tanto do ponto de vista dos
horizontes para os filhos, como do sustento da família.
Queria viver em um país onde não tivesse
o temor de sermos chamados para a guerra, ele com 36
anos e eu, no futuro, quando completasse 18 - era como
ele me explicava um dos pré-requisitos de sua
escolha.
Queria, também, um país em que a nossa
origem judaica pudesse ser preservada e legada a futuras
gerações, bem como, um país onde
as oportunidades de negócio pudessem ser encontradas.
Assim,
viajou por vários lugares, entre eles, países
da América do Sul, para ele, o lugar mais preservado
da ameaça de guerras. Recentemente, ouvi de minha
mãe que os familiares brincavam dizendo que
era necessário criar um novo globo terrestre
para que meu pai encontrasse o país que procurava.
Mas, parece que achou quando se decidiu, finalmente,
por São Paulo.
Desembarcamos
em Santos, em 23 de março de 1953, meus pais,
minha irmã menor, Rita, e eu, e fixamos residência
na Zona Leste de São Paulo, na Av. Celso Garcia,
onde meu pai alugou um galpão para reiniciar
os negócios, com máquinas trazidas da
Alemanha, enquanto os irmãos lá permaneciam
para venderem a fábrica e, depois, se juntarem
a nós com as suas famílias. Morávamos
num apartamento, em cima do galpão.
Aos 6 anos, falando somente alemão, entrei na
escola pública. Lembro das dificuldades iniciais
ao buscar pão e leite na padaria, função
que a minha mãe me atribuía para que eu
ganhasse mais desenvoltura. Nas histórias que,
posteriormente, ouvia, minha mãe chorava por
me ver tão encolhido por falta de comunicação,
uma vez que, na Alemanha, eu me destacava como criança
extrovertida.
Rapidamente aprendi o Português, mas por outro
lado, perdi o Alemão. Não sendo a língua
materna de meus pais, eles falavam entre si o Iídiche,
ou o Polonês, quando não queriam que entendêssemos.
Com minha mãe, a língua tornou-se o Português.
Ela que tinha muita facilidade para as línguas,
queria que aprendêssemos o mais rapidamente possível,
o Português. Por outro lado, o meu pai falava
conosco, o mais das vezes, em Iídiche. Ele se
orgulhava que falássemos a “língua
dos judeus da Diáspora”, dizendo que,
com ela, nos comunicaríamos com os judeus em
qualquer país do mundo. Porém, o mais
importante era a justificativa que ele dava quando eu,
ainda pequeno, mas já dominando o português,
pedia que ele falasse a nossa língua,
referindo-me ao português. Ele dizia “A
minha língua materna é o Iídiche.
Quando eu precisar dar bronca em você, automaticamente,
vou falar em Iídiche para me expressar melhor.
E eu quero que você entenda, perfeitamente, a
bronca!”
Falar para ser ouvido, dar bronca para que o outro
entenda e não como castigo. Este era meu pai,
que dizia: “Aprender sempre, mesmo de uma criança.”
Isto ele falava comigo, desde que eu tinha 7 ou 8 anos.
Acho que com ele aprendi, além de Iídiche,
o valor do ouvir e respeitar a opinião do outro.
Minha infância e adolescência foram boas
e ricas, em muitos sentidos.
Iniciei meus estudos em escola pública. Depois,
na escola religiosa Beith Chinuch, cursando, em seguida,
ginásio e colegial, no Rio Branco.
Adorava esportes, desde as brincadeiras de rua da infância,
bola, taco, bolinha de gude, até a prática
de esportes a partir dos 10 anos, quando o clube A Hebraica
foi inaugurado. O clube era a minha atividade extra-curricular
quase diária.
Seguiu-se o encontro com o Acampamento Nosso Recanto,
onde passei inúmeras temporadas de férias,
até os 16 anos. Nesta época, o meu envolvimento
com os esportes e com o convívio em grupo foi
se intensificando.
Apesar de cursar o Científico e com o vestibular
apontando para a Engenharia Civil, meus interesses estavam
já ligados também à Psicologia,
pois participava de grupos de discussão e de
palestras de temas psicológicos. Fui introduzido
neste mundo por alguém que muito estimo, Casimiro
Angielczyk, que foi também meu primeiro instrutor
de judô. Assim como eu, Casimiro era alguém
muito ligado aos esportes e era, também, vinculado
profundamente à busca do entendimento da condição
humana.
Quando me vejo hoje, entendo que esta foi minha marca,
desde sempre.
Ainda garoto, adorava também ouvir o meu tio
Gustavo falar de boxe, tendo sido ele campeão
amador deste esporte, na sua cidade Lodz. Por ele fui
introduzido a sua prática, estimulado também
por histórias de ídolos do passado, pelos
pesos-pesados da época, bem como da carreira
do nosso maior ídolo Eder Jofre, que acompanhava
tanto pelo rádio quanto em gloriosos momentos
ao vivo. Gustavo introduziu também o gosto pela
sauna, que freqüentava com outros adultos, todos
comerciantes do Bom Retiro, no Balneário Tenente
Pena. Um garoto convivendo com adultos, em programas
de adultos, ouvindo as mais variadas histórias,
para mim, era um sonho!
Como vocês podem ver, tive a felicidade de, como
criança e adolescente, ser tratado com amor,
respeito e consideração, pelas pessoas
que eu amava e admirava.
Desde os meus 8 ou 9 anos, meu pai falava comigo como
um interlocutor à sua altura. Falava de seus
planos de expansão de negócios, dos investimentos
e retornos esperados; às vezes, aflito, falava
da falta de dinheiro e do subseqüente alívio
do crédito concedido para o desconto das duplicatas.
Desde cedo, aprendi a identificar os sinais de sua inquieta
expectativa com o clima, ansiosamente aguardando o frio
que garantiria a venda de malhas. Aprendi os rudimentos
de matemática financeira fazendo cálculos
de juros e retorno sobre capital, enquanto caminhava
e conversava com ele, pelos andares da fábrica
da família, ou em passeios de final de semana.
Nesta época, eu estudava e praticava esportes
enquanto pensava no futuro.
Foi na escolha de minha profissão que tive,
também, grande aprendizado.
Apesar de ter enorme prazer em participar das temporadas
no acampamento de férias Nosso Recanto, tanto
como acampante e depois, como monitor e assistente,
fazer dessa vocação o meu futuro, somente
se passava nos meus mais íntimos e não
reveláveis desejos.
Portanto, Engenharia Civil era a minha primeira escolha,
escolha que era plenamente endossada por meu pai, pedreiro
e mestre de obras, em seus primeiros ofícios.
Mas, quando eu lhe disse que queria me encaminhar para
Administração de Empresas, ainda que contrariado,
ele aceitou e me apoiou. Conclui o curso de Administração,
na Fundação Getulio Vargas e, após
2 anos de atividade profissional, não tinha me
encontrado na profissão.
Mais uma vez mudei, prestando novo vestibular, agora
para Psicologia, curso no qual me formei, vindo a me
tornar psicoterapeuta – profissão que até
hoje exerço.
Esta 2ª mudança foi mais difícil
para meu pai digerir, porém, mesmo assim, até
a sua morte, eu tive nele meu fã número
Um e incentivador constante.
Além de ouvir de meu pai, fascinado, as histórias
de guerra, de sobrevivência, de anti-semitismo
de muitos e da solidariedade de outros, com ele conheci
o grande mundo.
Dele absorvi a importância dos valores inclusivos
e de solidariedade que me norteiam até hoje:
como tratar o semelhante, como ajudar quem precisa,
como perseverar na busca do sucesso e não permanecer
na lamúria dos fracassos.
Dele também aprendi a importância de ter
um passaporte e dele herdei o desconforto de uma condição
apátrida.
Me foi muito difícil entender como alguém
podia ter lar e não ter pátria. De todos
nós, minha mãe foi quem me mostrava mais
de perto o seu sentimento de pátria, uma vez
que ela se sentia assim em relação a URSS.
Meu pai se dizia polonês de nascimento, alemão
por naturalização e brasileiro por adoção.
Mas sua condição de errante era sempre
muito marcante.
Eu, de minha parte, não me sentia alemão,
apesar de ter nascido na Alemanha e não era plenamente
brasileiro por não ter aqui nascido. Como meu
pai, eu me sentia apátrida e cidadão do
mundo.
Após a sua morte e, já então, casado
e pai dos meus dois filhos, Eduardo e Rafael, tive na
minha mulher Bia, companheira e contraponto para meus
sonhos e pesadelos.
Nesta época, retomei contato mais ativo com o
mundo dos negócios e me dividia entre este e
meu trabalho como psicoterapeuta.
Mas a prática de esportes continuava sendo fundamental
para mim. Salvo brevíssimos períodos,
tenho praticado vários esportes durante a minha
vida inteira. A corrida como atividade em si mesma,
iniciei em 1988. E, em 1991, encontrei o embrião
que veio a se tornar meu trabalho mais amplo com o Esporte,
mais especificamente, a CORPORE. Na re-fundação
desta entidade, que atualmente presido, e juntamente
com amigos e companheiros aqui presentes, reencontrei
minha vocação mais antiga que não
pôde se fazer ouvir na minha mocidade.
Tenho a felicidade de me encontrar em situação
econômica e profissional independente, podendo
assim dedicar boa parte de meus esforços ao desenvolvimento
da CORPORE, totalmente identificado com a missão
que norteia o seu horizonte de atuação:
promover saúde, educação e cidadania,
através da corrida.
A corrida tem nos últimos anos conhecido um
crescimento exponencial. E espero que possamos continuar
contribuindo para que esse crescimento seja igualmente
exponencial em nossa consciência e cuidado com
saúde, educação e cidadania. Tenho
clareza que é esse envolvimento e trabalho que
me trás aqui, hoje e é através
dele que recebo o título de Cidadão Paulistano.
Talvez, para muitos de vocês, seja difícil
entender a profunda importância que ser “Cidadão
Paulistano” tem para mim.
Eu nasci em um campo de refugiados, mas não me
sentia um refugiado.
Há poucos anos, vendo um documentário,
descobri que a sigla usada nos campos de refugiados,
como o que eu nasci, era D.P.Camp – Displaced
Persons Camp (Campo de pessoas fora do lugar). E isto
esclareceu perfeitamente o meu sentimento, pois ser
refugiado é ter horizonte da volta ao lugar de
origem. Eu não era refugiado, não me sentia
refugiado, não tinha lugar de origem para voltar.
Me sentia “displaced”, isto é, aquele
que não tem lugar, que está fora do lugar,
desalojado.
Por aí, talvez, fica mais clara a importância
que é, para mim, receber o reconhecimento de
um lugar como sendo o lugar que me é concedido
em nome de minha trajetória. Ser “Cidadão
Paulistano” me dá o orgulho de expressar
minha cidadania de homem do mundo a partir do lugar
onde cresci, me casei, nasceram os meus filhos e a minha
neta e onde, hoje, nasci eu.
Por origem e formação me identifico,
cada vez mais, sobretudo, com quem busca o entendimento
da condição humana, seja ela visível,
em qualquer fronteira ou credo.
Num mundo onde os fundamentalismos míopes e excludentes
estão em alta, ao contrário, me considero
um “fundamentalista” da condição
humana com toda a sua amplitude, suas contradições
e, inclusive, suas dificuldades de convívio.
Considero este o maior desafio: podermos nos aproximar
o mais possível dos fundamentos da condição
humana para, através da inclusão, mesmo
do que parece insuportável, apontarmos para um
futuro melhor.
Cumpri parte da minha tarefa. Meus pais já cumpriram
plenamente a sua.
Diz um ditado judaico que aqui vou parafrasear, dando-lhe
um sentido mais amplo:
“Você terá legado algo aos seus descendentes
quando e se você o legar aos seus netos e não
aos seus filhos”.
Este ditado nos fala do legar como deitar raízes
profundas que somente serão visíveis
a partir dos netos.
Quando, hoje, com orgulho olho para os meus filhos
Eduardo e Rafael, vejo neles o legado de meu pai.
Espero ter a felicidade que, na minha neta Laura e nos
que ainda estão por vir, esta marca seja visível
e amplificada.
Muito Obrigado
David Cytrynowicz
Nobre Vereador Aurélio Miguel
Autoridades presentes
Senhoras e Senhores
Prezado David
Era dia 29 de agosto de 1553, no alto do Inhapuambuçú,
hoje Pátio do Colégio, Padre Manuel da
Nóbrega reza a 1ª missa e dá início
à obras de construção do Real Colégio
de Piratininga, entre o Tamanduateí e o Anhangabaú.
Saul Ben Ilel de Tarshish, Saulo de Tarso, Paulo de
Tarso, São Paulo Apóstolo. 25 de janeiro
de 1554, dia consagrado a São Paulo é
escolhido para a inauguração do Real Colégio
de Piratininga. Nascia assim a Vila de São Paulo.
Tempos depois, Padre Manoel da Nóbrega toma
ciência de que a Câmara Municipal de Santo
André da Borda do Campo passava por enormes dificuldades
para sobreviver. Recorre ao Desembargador Men de Sá,
então na Bahia, solicitando a ele mudança
da municipalidade para a Vila de São Paulo. Obteve
a concessão e a 8 de maio de 1560 ocorre a transferência
da Câmara Municipal de Santo André da Borda
do Campo, para a Vila de São Paulo.
O sertanista João Ramalho, vereador da primeira
Câmara Municipal de São Paulo, indaga de
Nóbrega quanto aos motivos de tantas cerimônias
religiosas, ao que o sacerdote e jurista respondeu:
“ a Câmara Municipal de São Paulo
estava nascendo nas terras de Santa Cruz, para ser refúgio
e fortaleza de Deus”.
Eu tomo a liberdade de dizer, refúgio e fortaleza
dos filhos de Deus, que somos nós, os nascidos
nesta geografia e os que para cá vieram, como
é o nosso caso e de nossos antepassados, caro
David.
De tempos em tempos, esta fortaleza, esta mãe
de 553 anos, percebe filhos de outras terras, que aqui
já realizaram tanto e tão bem, que ela
gostaria que também fossem seus.
Desta feita, foi você, David, o destacado, o
dileto, o chamado à reverência.
Pelas atitudes de uma existência, traduzidas
em obras e trabalho, de curriculum farto e substancioso
arrazoaram com brilho o título de Cidadão
Paulistano, hoje ofertado, hoje recebido.
Thomas Morus, criou um país imaginário,
onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona
ótimas condições de vida a um povo
equilibrado e feliz. Por extensão significa descrição
ou representação de qualquer lugar ou
situações ideais em que vigorem normas
ou instituições políticas altamente
aperfeiçoadas.
Utopia, o nome deste país, Utopia.
Quem
de nós não sonhou com ele?
Claro está que o caminho mais curto para este
país ou estado de coisas, começa em cada
um de nós, em procurarmos criar em nós
primeiro e depois à nossa volta, as melhores
condições possíveis para nós
e para quem nos cerca.
Fácil não é, poucos conseguem,
muitos sequer pensam a respeito.
Você, David, exercita isto todo dia, com naturalidade,
naturalmente.
Sócrates, cuja filosofia não era uma
teoria especulativa, mas a própria vida que ele
vivia, tinha como o mais ardente de seus discípulos,
Críton.
Quando da condenação de Sócrates
à morte, na véspera da sua execução,
Críton e outros discípulos, subornaram
a guarda para que Sócrates pudesse fugir, no
entanto, Sócrates sequer se moveu, o que levou
seus discípulos ao desespero.
Então, Sócrates bateu de leve em sua
própria cabeça, puxou com os dedos a pele
da mão e perguntou a Críton: “Você
acredita que Sócrates seja isto, que podem matar-me?
Eu sou minha alma, eu sou imortal.”
Nós somos o conjunto de nossas obras, algumas
maiores, outras nem tanto, poucas notórias.
A sua, David é notória, sem dúvida
eclética e notória.
Aveoé, Avoé, Avé, Ave, Salve.
Salve às vidas de onde você veio
Salve Sra. Maria, Salve Sr. Artur
Salve à vida onde você se estabeleceu.
Salve Sra. Maria Beatriz
Salve às vidas que você legou
Salve Rafael, Salve Eduardo, Salve Kharina, Salve Laura.
Hoje, tenho antes de tudo, o prazer de saudá-lo,
como quem vê, assiste, colabora, anda ao lado
e corre, aprende, ri e chora, torce e se admira cada
vez mais com a simplicidade e eficácia das suas
soluções, no trato com as coisas da vida.
O complexo, no seu dia a dia, torna-se simples.
Salve
David Cytrynowicz, salve.
Amadeu
Armentano
David
Cytrynowicz
Foi
com muita honra que pude indicar e fazer aprovar nesta
casa Legislativa o Título de Cidadão Paulistano
a David Cytrynowicz.
Nascido
na Alemanha, desde os seis anos de idade vive no Brasil
e foi aqui que estabeleceu um currículo do mais
alto gabarito. Tanto como empresário e executivo
junto à indústria nacional, como na condição
de profundo conhecedor da psicologia.
Sua
ação no mundo empresarial se desenvolveu
principalmente na Karibê SA, empresa na qual exerceu
a Vice-Presidência. Já no âmbito
da psicologia, David Cytrynowicz tem uma atuação
ainda mais digna de registro. Seja como idealizador
e coordenador do Projeto Alcance - de enorme importância
social -, ou como fundador da Associação
Brasileira de Daseinsanalyse, entidade da qual se tornou
Vice-Presidente posteriormente. Nesse campo, é
importante lembrar as contribuições de
Cytrynowicz realizadas através de palestras,
cursos e várias publicações.
Não
bastasse essa rica e consistente contribuição-
por si só suficiente para justificar um Título
de Cidadão Paulistano- David Cytrynowicz mantém
um sólido e profícuo compromisso com o
esporte.
Como
membro e dirigente da Corpore David Cytrynowicz tem
atuado a favor do esporte, particularmente das corridas
de rua. É de homens como ele que o esporte nacional
precisa para ganhar definitivamente o reconhecimento
de sua importância como atividade de inclusão
social.
É
particularmente feliz a coincidência de que esse
título esteja sendo entregue por mim a David
Cytrynowicz justamente hoje. Como foi amplamente divulgado,
ontem foi encerrado o campeonato mundial de judô,
no Rio de Janeiro.
Conquistamos
três medalhas de ouro e uma de bronze. É
nesse clima de festa que entrego a David Cytrynowicz
o Título de Cidadão Paulistano.