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Minha história - Sunao Nishio

30/07/2009, por Corpore
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Exclusivo para Associados Corpore

Sunao Nishio

A maioria das pessoas vive arranjando desculpas para adiar a felicidade, e, até seis meses eu não era diferente. A vida estava uma droga, mas tinha de cuidar de tudo e de todos, menos de mim. Sabia que correr fazia bem para o corpo e a alma. No entanto, não tinha tempo para, estava sempre na correria. Estabeleci, então, um novo lema para a minha vida: “Saia da correria. Corra!”. Ou seja, há seis meses descobri esse enorme prazer, diria até mesmo vital, que é a CORRIDA.

A sugestão de correr veio do meu professor Alexandre de Andrade, com quem eu já fazia ginástica, só o suficiente para não me enquadrar no grupo dos totalmente sedentários. A ideia nascia numa das fases mais difíceis da minha vida, quando – aos 50 anos de idade – se somavam perdas e mudanças que julgava, a princípio, insuperáveis. Nessa época, também, “caíram duas fichas”: a atividade física é a melhor coisa que se pode fazer pela saúde atual e o melhor investimento para a saúde futura e eu posso arrumar o melhor médico do mundo para cuidar de alguma DOENÇA, mas a única pessoa que pode, efetivamente, cuidar da minha SAÚDE, sou eu mesma. Essas duas premissas, na cabeça de uma médica, 26 anos de carreira, já eram óbvias há muito tempo – na hora de aconselhar os pacientes. Na vida prática particular, não.

Comecei devagar, quase andando. Tive de aprender a fazer isso, pois a minha personalidade de cirurgiã exigia que tudo na vida fosse rápido, e correr não era exceção. Assim, aprendi também a administrar melhor as ansiedades de um modo geral.

Aos poucos a minha capacidade foi melhorando e pude aumentar a distância das corridas e também a velocidade, até o ponto em que me sentia realmente correndo – ou seja, mais rápido do que andando (ufa!). E, paralelamente, fui me apaixonando cada vez mais pela minha nova descoberta. Ouvia dizer que “corrida vicia” e acreditava que, se é para manter algum vício, este seria o ideal. Mas prometi não me tornar escrava da corrida. Esta, em nenhuma circunstância, seria mais um motivo de stress, mas sim, e exclusivamente, de prazer. Correr o tempo todo POR PRAZER e o tempo todo COM PRAZER – esta seria a regra número 1 da minha nova paixão, embora, como toda paixão, estivesse sujeita a passar por altos e baixos, dores, incertezas e até períodos de desmotivação.

A minha primeira prova de rua foi a 4ª Corrida Oral B, com pouco mais de dois meses de treino. Quando fui pegar o kit, o rapaz que me atendeu perguntou se eu já era associada da Corpore. Respondi que não, que preferia checar primeiro “se eu gostava da coisa” para depois me associar, e ele me disse, com absoluta convicção, “você vai gostar!”. Pensei cá comigo, “será?”, pois tinha um pouco de medo de desanimar, não com a corrida em si, mas com a muvuca toda, porque eu nunca gostei de agitação nem de multidão.

No dia da prova, uma nova descoberta: adorei a muvuca e a multidão – uma muvuca organizada e uma multidão animada por uma motivação comum! Era interessante e intrigante que aqueles milhares de corredores guardassem o mesmo objetivo, embora cada um tivesse o seu, pessoal e intransferível. Independente de ser um ídolo ou um ilustríssimo desconhecido, principiante ou veterano, jovem ou idoso, homem ou mulher, todos estavam ali para... correr. Tão simples e tão bom! E, pensar que eu passaria pelo mesmo pórtico de chegada dos grandes campeões... isso era uma emoção única, que nenhum outro esporte poderia proporcionar! Pronto, eu estava definitivamente contaminada pela picada do tal do “bichinho da corrida”...

O Circuito Vênus foi o meu primeiro desafio de 10 km. Teria a opção de cinco quilômetros, mas eu já tinha quatro meses de treino e me sentia bem, então queria algo maior. Na noite anterior, uma pequena ansiedade se apossou dos meus pensamentos: “naquela hora crucial, quando a turma dos 5km já estiver próximo da chegada e eu ainda tiver mais 5 pela frente, vou me arrepender de ter me inscrito para os 10”. Aí refleti um pouquinho... Ops, eu me prometi que sempre correria por prazer e com prazer, não foi? Então, ao fazer minha inscrição para os 10 km, eu simplesmente OPTEI POR TER O DOBRO DE PRAZER PELO MESMO PREÇO, certo? Partindo desse ponto de vista, a perspectiva mudou. Naquela “hora crucial”, pensei, rindo sozinha, “Que pena que está acabando para vocês, eu ainda tenho mais 5 km de prazer!” Assim, completei o percurso sempre feliz.

Conheço corredores que definem a alegria de cruzar a linha de chegada como “sensação de dever cumprido”. Eu não concordo com isso, porque para mim a corrida não é um dever. Por isso, ao invés de comemorar o “dever cumprido” na chegada, comemoro o “prazer comprido” durante o percurso todo. E o melhor disso é que o prazer continua por muito tempo, mesmo depois da linha de chegada!

Prazer bem comprido foi a X Meia Maratona Corpore. Tão comprido que, confesso, nos últimos 3 km não consegui mantê-lo. Estava tão cansada que o tal do “sofrimento gostoso da superação” se transformou num sofrimento de verdade, e, longe de sentir prazer, só pensava em terminar logo – e só não andei porque correndo acabaria mais rápido. Como aprendizado, ficou a reflexão por ter transgredido a minha regra número 1, muito mais do que a sensação de conquista por ter completado uma meia-maratona com menos de 5 meses de treino.

Entre as manobras que utilizo para me manter feliz durante as provas, costumo me lembrar dos motivos e das pessoas pelas quais sou grata a Deus, e vou agradecendo passo a passo. Como são muuuuitos passos, existe aí a grande chance de me lembrar de coisas e pessoas que nem passariam pela cabeça em outras circunstâncias. Foi assim nos 10 km da 9ª Corrida e Caminhada do GRAACC. Antes da largada, eu estava sentindo uma discreta dor numa das pernas. Pudera, há menos de 12 horas tinha corrido outros 10 km numa prova noturna sob uma chuva forte que foi um Deus nos acuda (quase que a minha regra do prazer tinha ido “por água abaixo”). E a dorzinha me preocupava; afinal, não é nada agradável já começar com dor uma corrida de 10 km. Mas um pequeno discurso mudou tudo isso. Quando estava me aproximando da largada, o locutor do evento chamou ao microfone um paciente do GRAACC, um menino magrinho e carequinha conforme impõe a quimioterapia e sabe-se lá que tratamentos mais já recebera por causa do câncer. Infelizmente, não consegui memorizar todo o seu discurso, mas uma coisa espetou meu coração. Ele disse: “eu só não vou caminhar com vocês porque tenho muitas dores no corpo, mas estou muito feliz de estar aqui”. Por pouco não chorei e no íntimo repeti a frase dele e acrescentei a minha: “é, garoto... você não vai caminhar porque tem muitas dores no corpo mas está feliz de estar aqui, e eu vou correr porque não tenho dor nenhuma e estou muito feliz de estar aqui”. E assim, comecei a corrida agradecendo a Deus por aquele menino e pela minha saúde, aliás, tanta saúde, que até me permite correr duas provas de 10 km literalmente da noite pro dia! E no percurso, quase não deu tempo de agradecer por tudo, não porque corri muito rápido, mas porque era muita coisa para agradecer. Também não precisaria dizer que corri a prova toda com prazer e terminei sem um pingo de dor em lugar nenhum.

Um ponto que vale ressaltar é que eu comecei a correr por uma motivação egoísta – era apenas para melhorar a MINHA vida, mas a mudança que a corrida causou em mim vem servindo de estímulo para outras pessoas: muitas começaram a se exercitar por me verem praticando – e não apenas aconselhando na teoria – o que de fato fez diferença na minha vida.

Hoje em dia, grande parte da população está preocupada, se não obcecada, em perder peso. É interessante observar que muitos percebem que eu emagreci muito (outro grande benefício da corrida, embora não seja o mais importante para mim) e me perguntam se estou fazendo regime. Eu respondo com humor: “Claro que não; não sou tão burra! Você já viu alguém feliz fazendo regime? Você acha que vou viver a vida inteira infeliz, fazendo regime, em troca de manter o peso? Mas não mesmo! Eu fui mais esperta: descobri um grande negócio, que faço por prazer e com prazer, posso comer muito e ainda por cima, emagrece!”. Invariavelmente as pessoas ficam intrigadas, querendo saber a “fórmula mágica”. E então compartilho com toda a alegria e entusiasmo essa coisa tão mágica e fantástica chamada CORRIDA, torcendo para que mais e mais pessoas pelo mundo sejam contaminadas por esse bichinho!!

Por fim, não é que o rapaz da Corpore tinha razão?

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