A
matéria a seguir é mais uma que
faz parte da troca de informações
entre a Corpore e AIMS (Associação
Internacional de Maratonas e Corridas de Rua).
Dessa vez veremos a importância e o que
se pode tirar dos dados coletados nas corridas
através dos tempos.
Há muito nós falamos do crescimento
das corridas no Brasil, em especial em São
Paulo, com base nos números dos eventos
e ações da Corpore. Essa matéria
mostra, através de dados internacionais,
quanto é contundente esse crescimento e
que conclusões podemos tirar.
Obviamente, existem peculiaridades próprias
nos eventos nos EUA e Europa, como por exemplo,
os corredores “caridosos”, onde o
corredor corre em favor de uma causa como, por
exemplo, levantar fundos para a luta contra o
câncer, caso do Leucemia Team, ação
sem similar no Brasil.
A matéria foi escrita pelo Dr. David Martin,
que esteve conosco em novembro no congresso da
AIMS no Brasil. Ele é o responsável
pelas estatísticas da AIMS e através
delas veremos números significativos que
mostram que a atividade é crescente em
todo o mundo, mais na forma de comportamento do
que como esporte competitivo.
Boa Diversão !!!
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Além
do que os olhos vêem |
Existem
basicamente três tipos de pessoas que buscam os
resultados de corridas:
- as que correm e procuram apenas seu próprio
tempo e posição;
- os que checam os resultados para ver como se saíram
os amigos ou apenas para descobrir o vencedor;
- os diretores de provas, que vêem os resultados
com outros olhos, como dados estatísticos.
Os
gráficos e estatísticas dos participantes,
principalmente dos que terminaram a prova, são
muito úteis para os organizadores das provas.
Se analisarmos os dados estatísticos nos colocando no lugar do diretor de uma grande prova, uma das primeiras coisas que notamos é que ao mesmo tempo em que o número de corredores que terminam as maratonas vem aumentando ao longo dos anos, a grande maioria deles demoram mais para terminar a corrida enquanto os vencedores diminuem seus tempos.
Isso pode ser mostrado de diversas formas. A figura 1 mostra um gráfico dividido em períodos de 30 minutos para os atletas que terminaram a Maratona de Nova York nos anos de 1982, 1992 e 2002. |
Figura 1A: Tempo dos finalistas na Maratona de Nova York (82, 92, 02)
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Em
1982, o maior grupo de atletas fez a prova entre 3h30
e 4h. Em 1992, a maioria terminou entre 4h e 4h30. E
em 2002 o aumento foi maior e o tempo de término
para a maioria dos participantes ficou entre 4 e 5 horas.
Outra
forma de analisar esses dados é vendo a porcentagem
de atletas que conseguiram terminar a prova nos mesmos
períodos de 30 minutos
No
quadro 1B podemos perceber que em Nova York, 70% dos
corredores terminaram a prova em menos de 4 horas em
1982, em 1992 o número caiu para 45% e em 2002
foram apenas 27,5%.
Mas
a pergunta que surge é por que os corredores
da massa estão ficando mais lentos enquanto a
elite fica mais rápida? Uma das explicações
é de que há dois novos grupos de corredores
entre as massas e esses grupos vêm crescendo.
Com
a presença cada vez maior nas grandes maratonas
como a de Nova York e Londres, esses grupos estão
mais voltados para a participação do que
competição. O primeiro grupo, o dos “turistas”,
é formado por pessoas que treinam e têm
interesses e recursos financeiros para viajar pelo mundo
e correr maratonas nessas cidades.
Já
os “caridosos” correm para levantar dinheiro
para todas as causa, desde a leucemia até pesquisas
para curar distrofias musculares. Nenhum dos grupos
tenta ser rápido, pois essa não a sua
proposta principal. Eles só querem chegar ao
fim da corrida
Figura
1B: Tempo dos finalistas nas maiores maratonas
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Além
da participação desses grupos (que varia
entre as maratonas), outros fatores influenciam no tempo
da prova, fazendo de cada prova uma entidade única.
A tabela 1B mostra que fatores como a temperatura, umidade
e o clima festivo levam a um término muito mais
lento, como aconteceu em Honolulu em 2002.
Cabe
aqui também explicar o porque da maratona de
Boston de 1982 ter 100% dos atletas terminando a prova
em menos de 3h30. Nesse ano, a corrida foi arbitrariamente
considerada acabada depois de 3h30 e o tempo foi parado,
contando como o tempo final para todos corredores.
Como
existiam provas classificatórias para participar
da prova, a maioria dos corredores realmente havia cruzado
a linha de chegada em 3h30. O tempo final foi estendido
para 4h em 1984, 4h30 em 1987 e 5h em 1990.
Apenas
quando a corrida comemorou o seu centenário em
1996 – com a participação de qualquer
atletas e com o tempo final em aberto – ela conseguiu
seu recorde de atletas que terminaram a prova, com 35.868
atletas.
Outra
forma de utilizar dados de maratonas é para examinar
as mudanças no nível dos maratonistas
em cada país.
Cinco
exemplos são apresentados: na figura 2A vemos
o aumento de corredores quenianos que fazem maratonas
abaixo das 2h20 nos últimos 20 anos em comparação
aos etíopes; na figura 2B vemos o declínio
da performance de corredores britânicos e americanos
com tempo abaixo de 2h20; na figura 2C vemos a regularidade
dos corredores japoneses nesse mesmo período.
As causas para as mudanças são difíceis
de identificar, mas sem esses gráficos essas
mudanças talvez nem seriam observadas.
2A:
Tempo abaixo de 2h20 entre Quênianos e Etiopes
(1983-2002) |
2B:
Tempo abaixo de 2h20 entre Americanos e Britânicos
(1983-2002) |
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2C:
Japoneses com tempo abaixo de 2h20
(1983-2002) |
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Uma
terceira vertente é usar essas estatísticas
para prever o futuro. Por exemplo, a figura 3A mostra
o número total de atletas homens que fizeram
suas provas em tempo inferior a 2h20 e mulheres em 2h55
desde 1970.
Atualmente,
existem cerca de 1100 homens que conseguem fazer maratonas
abaixo desse tempo por ano e esse número é
constante desde 1983 – quando as corridas nas
metrópoles se tornaram mundialmente populares.
A participação feminina ficou atrás
da masculina durante alguns anos, mas aumentou consideravelmente
após a primeira Maratona Olímpica Feminina
em Los Angeles em 1984. Enquanto o número de
homens atingiu uma regularidade, a participação
feminina continua a subir.
A
figura 3B mostra as melhores performances masculinas
e femininas a cada ano desde que a distância da
maratona foi definida como 42.195 m em todo mundo.
Isso
trás uma questão: “Quão rápido
uma maratona pode ser corrida?”. Para responder
isso, em 1999, esse conjunto de dados foi analisado
detalhadamente para poder se prever quando um homem
correria abaixo de 2h e a mulher de 2h20.
3A:
Homens abaixo de 2h20 e mulheres abaixo de 2h55
(1970-2002) |
Melhores
performances masculina e feminina
(1924-1999) |
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A
equação desenvolvida para as mulheres
preveu que a quebra aconteceria em 2000. No dia 30 de
setembro desse ano, Naoko Takahashi fez a Maratona de
Berlim em 2:19:46. Para os homens a equação
prevê que a marca de 2h será quebrada em
2015. Será que isso ocorrerá? É
só ver para crer.
Corpore
e as estatísticas |
Na Corpore as estatísticas são bastante
utilizadas, principalmente para a manutenção
do Ranking Corpore. O responsável por isso é
o Secretário Geral da entidade, Edgard José
dos Santos.
Com
os dados estatísticos que a Corpore tem, está
se tornando possível, inclusive, saber o tempo
aproximado que cada equipe terminará a prova:
“Cito o exemplo da prova de Ilhabela 2002, em
que o detalhamento rigoroso de cada trecho, o tratamento
das informações sobre performance de cada
um dos atletas, a altimetria do percurso, etc, permitiram
que nossa previsão praticamente batesse com a
realidade. Em uma prova que se iniciou às 5:30
e terminou às 17:00 horas, previmos que a última
equipe cruzaria a linha de chegada às 16:57.
Três minutos depois ela o fez. Erro desprezível
no contexto. Em cada um dos 17 trechos, obtivemos esta
mesma precisão”, afirma Edgard.
Confira
também as estatísticas
do crescimento dos associados e de participação
nas provas Corpore, o que comprova o desenvolvimento
e a procura por esse esporte no país.
Texto:
David Martin
Fonte: Distance Running
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