O risco de desenvolver diabete do tipo 2 cai pela metade para indivíduos tratados ainda na fase pré-diabética, em que estão mais propensos a desenvolver a doença. Essa é a conclusão de um estudo divulgado pela revista científica The Lancet e apresentado no 72º Encontro Científico da Associação Americana de Diabete, nos EUA, que terminou dia 11 de junho.
“Esse resultado reforça uma mudança no padrão de atendimento para o tratamento precoce e agressivo de redução de glicose em pacientes com risco de diabete”, diz uma das autoras do estudo, a médica Leigh Perreault, da Universidade do Colorado, nos EUA. Os especialistas brasileiros concordam: o pré-diabete deveria ser tratado com mais rigor.
Um indivíduo é considerado pré-diabético no Brasil quando sua taxa de glicose no sangue está ligeiramente alta, entre 100 e 125 mg/dl, mas ainda não se encontra tão elevada quanto no caso dos diabéticos. A taxa ideal é de até 90 mg/dl. Quase 12% da população do País se enquadra na categoria dos pré-diabéticos, o dobro do porcentual daqueles que já apresentam a doença, segundo a Sociedade Brasileira de Diabete (SBD).
“A alta incidência nacional do pré-diabete reforça a necessidade de controle da glicemia”, afirma o endocrinologista Balduino Tschiedel, presidente da SBD. Ele lembra que todo paciente com diabete do tipo 2 passou pelo quadro de pré- diabete.
Na pesquisa norte-americana, os 1.990 pré-diabéticos analisados foram divididos em três grupos: o primeiro recebeu remédios, o segundo ingeriu placebo e o terceiro alterou hábitos alimentares e passou a se exercitar – foi a equipe 3, que promoveu mudanças comportamentais, a que obteve os melhores resultados no controle da glicemia. Esses participantes tiveram uma redução de 56% na taxa de açúcar no sangue, e com isso, diminuíram o risco de desenvolver diabete nos sete anos seguintes.
O problema, dizem os médicos, é que o pré-diabete é um estágio difícil de identificar. Por não ser uma doença, é assintomático, lembra a endocrinologista Claudia Cozer, coordenadora do Núcleo Avançado de Obesidade e Transtorno de Imagem do Hospital Sírio- Libanês.
Histórico familiar, excesso de peso, sedentarismo e pressão alta são alguns indícios de que o organismo pode estar com dificuldades “para quebrar as moléculas de glicose”, lembra Tschiedel. “O perigo é que o pré- diabete já é um fator de risco para doenças cardiovasculares.”
Controle nutricional e 30 minutos diários de exercícios ajudam a controlar o nível de açúcar no sangue. “Como o pré- diabete é um ‘alerta’ do organismo, a pessoa deve alterar o estilo de vida. É simples e eficaz”, lembra Tschiedel.
Os níveis de glicose considerados saudáveis têm diminuído. Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Rio de Janeiro, a médica a Vivian Ellinger lembra que, “há pouco mais de dez anos”, uma taxa de glicose de 140mg/ dl ainda era aceitável.
“A taxa diminuiu para ser preventiva. Os pacientes eram diagnosticados já com problemas crônicos ou irreversíveis. A intenção é diagnosticá-los antes disso”, diz.
Por FELIPE ODA (Jornal da Tarde - 11-06-2012)
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