Estudo aponta estratégia de sucesso para ter mais saúde
Mariana Lenharo / JT Cidade 10-06-2012, pág. 3ª
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Ver menos TV e comer mais frutas, verduras e legumes é o que mais funciona para cuidar bem do organismo.
Promover duas mudanças simples no cotidiano pode fazer toda a diferença para quem deseja uma vida mais saudável. Diminuir o tempo gasto em frente à televisão e aumentar o consumo de hortifrútis foi a estratégia que melhor funcionou dentro de quatro modelos de mudanças de hábitos propostos por um estudo norte-americano publicado nesta semana pela revista científica Archives of Internal Medicine.
A pesquisa, conduzida pela Northwestern University Feinberg School of Medicine, analisou a evolução de 204 adultos que tinham em comum o sedentarismo e uma alimentação inadequada, pouco saudável. Divididos em quatro grupos, os voluntários foram submetidos a diferentes desafios para mudanças de hábitos.
A combinação vitoriosa, executada pelo grupo 3, provocou uma melhora até mesmo em outros hábitos associados à prevenção em saúde. Ao final de cinco meses, esses participantes tinham aumentado em 50,2% o tempo de atividades físicas e diminuído em 17,5% o consumo de gordura saturada, mesmo que esses itens não fizessem parte do desafio proposto pelos pesquisadores. No mesmo período, eles diminuíram em 42,6% o gasto em frente à TV e aumentaram em 141,6% o consumo de vegetais.
O primeiro grupo deveria aumentar o consumo de vegetais e passar a praticar atividades físicas. O segundo teve de diminuir o consumo de gordura e o tempo de lazer sedentário (o que inclui o período em frente à TV e ao computador). Já o quarto grupo diminuiu a gordura e inseriu a atividade física no cotidiano.
“Promover apenas duas mudanças de estilo de vida tem um grande efeito global e não deixa as pessoas sobrecarregadas”, afirma a média Bonnie Spring, autora do estudo.
A endocrinologista Denise Karplan, coordenadora do Departamento de Educação da Associação de Diabete Juvenil (ADJ), observa que estudos como esse, que investigam as estratégias mais eficientes de mudança de hábito, são importantes justamente pela dificuldade que os pacientes encontram em promover alterações saudáveis no cotidiano. “Quando se tem um hábito muito forte, exercício ao longo de 20, 30 anos, é preciso um motivo muito forte para mudar”.
O estudo americano teve ainda uma particularidade: nas três primeiras semanas, os participantes que conseguiram cumprir a proposta receberam até R$ 354,00 como recompensa. Nas semanas seguintes, o esforço passou a não ser mais remunerado. Mesmo assim, muitos mantiveram os bons hábitos, o que significa um reconhecimento de que a mudança fez bem.
Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, o médico Gustavo Gusso diz que o indivíduo que se propõe a mudar em busca de mais saúde tem mais facilidade em adotar outros comportamentos saudáveis. “O ciclo é o mesmo. Qualquer mudança exige planejamento, ação e manutenção”, avalia.
Ciclo positivo
A experiência da produtora cultural Áurea Karpor, de 33 anos, mostra o quanto a adoção de um hábito saudável pode desencadear um ciclo positivo que acaba exercendo influências em outras aéreas da vidas. Há um ano, ela resolveu fazer uma reeducação alimentar. Tomou a decisão após se ver em uma foto. “Quase não me reconheci”, lembra. Ela pesava 90 quilos e sentia-se sempre cansada.
Como a dieta mais equilibrada, Áurea animou-se para fazer exercícios. “Gostava muito de dançar e fazia tempo que não frequentava uma academia. Então, fiz a matrícula com um amigo”, conta. Hoje, ela dança quase todos os dias e relata que o exercício, de alguma maneira, tem ajudado na tarefa de manter uma dieta mais saudável.
Produtora perdeu 17 quilos com nova rotina alimentar
A produtora cultural Áurea Karpor, de 33 anos, nunca gostou de verduras. Chegou a passar anos à base de comida pronta ou de micro-ondas e não se controlava diante de um balde de frango frito. Tentou vários regimes, como a dieta da lua ou a dos líquidos. Nunca deu certo: os quilos perdidos voltavam em pouco tempo.
Mas, há um ano e meio, ela tomou a decisão de mudar a alimentação. Não apenas para ficar mais magra, mas para ter mais saúde. Áurea passou a seguir a dieta dos Vigilantes do Peso, que propõe a inclusão de uma porção mínima de cada tipo de nutrientes. No começo, encarava as reuniões dos Vigilantes como se estivesse indo a um grupo de alcoólicos anônimos. “Pensava: por hoje, não vou comer isso”, diverte-se.
Com o tempo, Áurea passou a ter uma preferência sincera pelos alimentos saudáveis. Mesmo o refrigerante light, que tem poucas calorias, é substituído pelo suco de fruta, mais nutritivo. E o esforço valeu a pena: Áurea já baixou de 90 quilos para 73. “Quero chegar aos 60, mas devagar, me alimentando direito”, avisa.

Hábito não é levado a sério
O médico Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), diz que muitas pessoas, quando tentam trocar os hábitos ruins por boas práticas, acabam desistindo porque acreditam que comer mal, ser sedentário ou fumar são hábitos que nem sempre representam uma sentença de morte.
“As pessoas acham que ser saudável é poder comer de tudo e não engordar é fumar e não ter câncer” diz Gusso. Além disso, o médico destaca que os hábitos “errados” sempre são prazerosos, daí a relutância em mudar.
A nutricionista Patrícia Carvalho de Abreu, do Centro de Referência em Medicina Preventiva da Unimed Paulistana, concorda. “A prática nos mostra que a grande maioria das pessoas que passaram a vida com maus hábitos alimentares encontra dificuldades na adaptação de novas práticas.”
Para a endocrinologista Denise Kaplan, coordenadora do Departamento de Educação da Associação de Diabete Juvenil (ADJ), uma das estratégias de promoção dessas mudanças é tentar entender os motivos que levam o indivíduo a se comportar de uma determinada maneira.
Alguém que tem o costume de comer farinha durante as refeições, por exemplo, pode ter uma razão cultural ou afetiva para fazer isso. “Talvez aquele prato faça a pessoa se lembrar da avó. Mas é possível associar aquele carinho da avó a outros elementos, não necessariamente à comida”, diz Denise.
Outra estratégia adotada atualmente é a modelagem. Nessa técnica, o profissional de saúde conversa com o paciente sobre as vantagens e desvantagens de adotar determinados hábitos específicos, promovendo pequenas mudanças de conduta mais imediatas.
Ajuda online
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O médico Gustavo Gusso participou do desenvolvimento de um software que ele descreve como um “facebook da prevenção”
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No site www.vitalbox.com.br, o usuário cadastra informações sobre sua saúde e recebe alertar periódicos sobre os exames preventivos que deve fazer ou vacinas que precisa tomar
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A plataforma também faz análises estatísticas sobre os riscos de os usuários desenvolverem doenças. É possível ainda fazer simulações para descobrir o quanto os riscos diminuíram caso o usuário parasse de fumar ou perdesse peso, por exemplo.
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