O
lactato é produzido pelo organismo após
a queima da glicose (glicólise), para o fornecimento
de energia sem a presença de oxigênio (metabolismo
anaeróbico láctico). Em atividades físicas
de longa duração, o suprimento de oxigênio
nem sempre é suficiente. O organismo busca esta
energia em fontes alternativas, produzindo o lactato.
O acúmulo desta substância nos músculos
pode gerar uma hiperacidez, que causa dor e desconforto
logo após o exercício. Assim, a determinação
da concentração sanguínea do lactato
permite avaliar indiretamente a acidose metabólica
do exercício, sendo uma das ferramentas diagnósticas
utilizadas pela Fisiologia do Exercício. A dosagem
do lactato permite avaliar a capacidade de exercício
e monitorar a intensidade de treinamento dos atletas.
Isso pode ser feito em exercícios de cargas crescentes
durante o Check-up Fitness ou após o término
de um treinamento específico ou de um exercício
realizado em competição. A dosagem sanguínea
do lactato é uma forma prática de se obter
uma avaliação do metabolismo do lactato
e do limiar anaeróbico do atleta. Para se entender
como funciona esse teste, precisamos antes entender
a produção de energia no músculo
e sua relação com a produção
do lactato.
A
produção de energia para a realização
de um exercício físico se dá a
partir da “quebra” de uma molécula
de ATP (adenosina trifosfato), que funciona como o combustível
para a contração muscular. Existem 3 mecanismos
principais para produção dessa energia:
1.
Sistema do metabolismo anaeróbico aláctico
(sistema ATP-creatina-fosfato), ou seja, sem a produção
de lactato.
2. Sistema do metabolismo anaeróbico láctico
(glicólise), ou seja, que leva à produção
do lactato.
3. Sistema de metabolismo aeróbico, também
sem a produção de lactato.
No
metabolismo anaeróbico láctico, o lactato
é o produto final da degradação
da molécula de glicose (açúcar)
utilizada para a produção de energia (ATP).
Isso ocorre porque não há oxigênio
(O2) suficiente para que ocorra o sistema de metabolismo
aeróbico.
Na
realidade, o metabolismo anaeróbico láctico,
com a produção do lactato, é o
principal sistema de produção de energia
que é utilizado em atividades físicas
que têm duração relativamente curta,
de 30 segundos a 90 segundos, como por exemplo em corridas
de 400 metros, provas de natação de 200
metros, no futebol, no tênis, etc. O lactato produzido
no músculo vai para a corrente sanguínea
e daí para o fígado, onde é removido
do sangue e metabolizado.
A
concentração de lactato no sangue é
de aproximadamente 1,0 mmol/L a 1,8 mmol/L, em repouso
e durante o exercício leve, quando existe equilíbrio
entre sua produção muscular e sua remoção
hepática. À medida que o exercício
físico se intensifica, ocorre um desequilíbrio
entre a produção e remoção,
com conseqüente acúmulo de lactato no sangue
e aumento de sua concentração. Esse aumento
da concentração do lactato no sangue pode
ser utilizado para a detecção de um índice
de limitação funcional, o limiar
anaeróbico, que tem grande utilidade
no treinamento desportivo.
A
detecção desse índice de limitação
funcional é feita com a realização
de um exercício de cargas crescentes, e baseia-se
na medida da concentração sanguínea
do lactato: coletas seriadas de sangue são feitas
para se determinar o limiar anaeróbico,
que ocorre quando a concentração do lactato
excede o valor de 4,0 mmol/L. Dessa forma,
estabelece-se como limiar anaeróbico a carga
ou intensidade de esforço imediatamente anterior
àquela em que a concentração de
lactato excede esse valor. O treinamento de "endurance"
diminui a concentração sanguínea
de lactato e com isso retarda a chegada ao limiar anaeróbico,
o que indica a melhora da performance do atleta. É
importante ressaltar que concentrações
de lactato acima de 4,0 mmol/L devem ser evitadas no
treinamento de “endurance”.
O
desenvolvimento de novas tecnologias para a dosagem
do lactato, denominadas em conjunto de teste laboratorial
remoto (“point-of-care testing”), permite-nos,
atualmente, fazer a dosagem da concentração
sanguínea do lactato em campo, de forma precisa
e com uma pequena gota de sangue obtida da ponta de
um dos dedos do atleta. Além disso, o resultado
é obtido rapidamente, em poucos minutos. Isso
facilita muito a realização desse teste,
a rapidez de sua interpretação e a tomada
de decisão, ampliando seu uso na Medicina Esportiva.
Assim,
a dosagem do lactato pode trazer importante informação
para o atleta e seu treinador, tanto quanto à
situação atual de treinamento e “performance”
do atleta, como com relação às
demandas metabólicas do organismo e sua capacidade
de suportar estímulos de exercícios especificamente
selecionados. A avaliação do “fitness”
individual e das condições de treinamento,
que dependem desse condicionamento físico, são
uma área de interesse cada vez maior dentro dos
programas de treinamento físico.
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