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CARDIOLOGISTA CHEGOU A PESAR 145 QUILOS
Dar a volta por cima. Mudar de hábitos e transformar o corpo – e a vida – de maneira surpreendente não é para qualquer um. E o cardiologista da Unesp, Fábio Cardoso de Carvalho, de 43 anos, é um exemplo desses. Perdeu 64 quilos – foi de 145 para 81 – após cirurgia e prática de atividades físicas.
Passou toda a infância e a juventude lutando contra a balança, fazendo dietas mirabolantes, tomando medicações. “Tudo que era possível, eu tentei. Eu sempre tive perdas significativas de peso, mas não conseguia mantê-lo. Passava por uma fase difícil, ficava um pouco mais ansioso e já desengatilhava o processo de ganho de peso novamente”, conta Fábio ao Diário Botucatu.
Já adulto, Fábio estava com obesidade mórbida e chegou a pesar 145 quilos. A autoestima e a sociabilidade, claro, estavam em baixa. Na profissão, aconselhava os pacientes a mudarem de hábitos, melhorando a alimentação e praticando exercícios físicos. Mas como fazê-lo se nem ele mesmo seguia as próprias orientações? Por mais que gostasse de atividades físicas, o peso não o deixava aguentá-las. Tinha dor nas pernas, nos tornozelos, nas costas.
O cardiologista, então, decidiu mudar de vida. O primeiro passo seria a realização de uma cirurgia de redução de estômago, a bariátrica. “Em 2007, fui consultar um medico no Paraná que tinha uma técnica nova de cirurgia. Fiz essa primeira intervenção, mas não deu certo, talvez pelo método cirúrgico. No começo perdi peso pela dieta rigorosa que fiz. Depois de um tempo, não emagrecia nada, tinha uma qualidade de vida ruim e, dois anos depois, eu já estava com o peso inicial, com os mesmos problemas”, diz.
Desanimado, se perguntava se não seria o destino ser gordo para o resto da vida. “Será que meu caso não tem solução? Tudo passa pela nossa cabeça”, revela.
Então, entrou em contato com amigos que haviam feito a bariátrica em Botucatu e, decidido, agendou a nova cirurgia. A esposa Silvia Angélica, como sempre, lhe apoiou na decisão. “Eu nunca tive pressão alta, problema de colesterol alto. Isso me encorajou mais a procurar pela nova cirurgia. Expliquei a situação para o médico e ele disse que eu deveria operar de novo”, afirma.
A cirurgia, desta vez, deu resultado. Nos primeiros seis a oito meses depois, perdeu quase 50 quilos. A queda significativa no peso fez com que voltasse ao esporte. Começou a correr 5 quilômetros. Passou aos 10. Em 2010, pouco mais de um ano após a intervenção cirúrgica, correu a primeira São Silvestre e disputou algumas meia maratonas.
Mas nem tudo foi positivo. “E por conta desse aumento gradual do volume de corrida, e com essa perda grande de peso, você perde muita gordura e perde também muita musculatura. Eu estava fazendo um acompanhamento para restabelecer a musculatura, eu estava com o corpo fraco, esquisito, porque comecei a ter algumas lesões de corrida, entre 2010 e 2011”, lembra.
A solução veio no conselho de um primo. Treinar para triatlo, esporte que abrange natação, bicicleta e corrida em uma mesma competição. “Ele já havia participado do Iron Man [competição de triatlo onde os participantes nadam 3,8km, pedalam 180km e correm 42km] e disse que seria bom, pois você diversifica os esportes, ajuda no processo de perda de peso e não se machuca. Achei a ideia interessante, mas ia ser difícil conciliar com o trabalho e a família. Mas fiquei com aquilo na cabeça”, diz.
E em 2012 decidiu tentar. Participou de uma prova de triatlo com 750m de natação, 20 quilômetros de bike e 5 quilômetros de corrida, chamada de short. “Fiz e me apaixonei. Achei muito legal a prova. E fiz mais outras oito ou nove provas no ano”, conta.
Fábio aumentou as distâncias percorridas. Passou a disputar a modalidade olímpica, com 1,5 quilômetros de natação, 40 quilômetros de bike e 10 quilômetros de corrida, feita em, mais ou menos, cinco horas e meia. “E foi onde eu me encontrei, gostei muito. Eu achei muito bom porque você não sofre muito e curte o ambiente da prova. Em 2015, fiz mais três provas dessa distância. Estava indo bem, gostando. Foi quando meu treinador falou que eu poderia disputar o Iron Man”, afirma.
Apesar de pensar na dificuldade de conciliar treinos mais intensos e duradouros com o emprego e a família, decidiu abraçar a ideia, novamente apoiado pela esposa. Silvia, inclusive, se contagiou pelo espírito esportista e saiu do sedentarismo para praticar corrida de rua.
SIDNEY TROVÃO
FÁBIO VAI DISPUTAR O IRON MAN NESTE ANO
O cardiologista, então, se inscreveu para a prova de 28 de maio. Entre o dia 1o de janeiro e a data do Iron Man, serão 21 semanas de treinamentos duros. “Treino seis vezes por semana, muitas vezes, dois treinos por dia. Já ando com as coisas no carro. Quando abre uma brecha no meu dia, eu encaixo um treinamento”, salienta.
Além da alimentação, que precisou ser controlado após as cirurgias, a colaboração da família foi decisiva. “Muitas coisas que eu tenho que fazer em casa, como pegar as filhas na escola, levar para alguma atividade, eu deixo quase tudo na mão dela. Agora com meu tempo livre eu treino. Pedi para ela segurar a bronca nesses meses e depois a gente se ajeita”, conta.
A filha mais nova, Letícia, de 8 anos, também abraçou a causa. Começou a praticar modalidades infantis de triatlo. “As distancias são pequenas mas servem para despertar o gosto da criança no esporte. E minha filha gostou muito, já fez duas vezes. É recompensador ver que o que eu estou fazendo, consigo despertar essa vontade tanto na minha esposa quanto na minha filha mais nova”, conta.
Hoje, Letícia e a filha mais velha, Ester, olham para as fotos antigas do pai e não o reconhecem. “Eu falava ‘olha o papai’, elas olhavam surpresas e falavam que não era”, lembra, aos risos.
E a participação nas competições não são feitas para obter os melhores resultados. “Mas claro que você quer fazer o melhor que puder fazer. Não quero chegar no final da prova me arrastando, quero ter aquela sensação boa que o esporte dá”, finaliza.
Dicas para quem começar
Fábio também deu dicas para quem deseja começar a praticar atividade física e deixar o sedentarismo para trás. A primeira delas é contar com uma orientação profissional. “Muitas pessoas já não são tão jovens e começam com atividade física sem nunca ter feito exame, uma avaliação médica, e isso é muito importante. Procurar uma orientação nutricional e de educador físico também. Pode ser numa academia, por exemplo”, afirma.
Participar de um grupo de amigos que façam os mesmos exercícios também colabora. “É importante você ter amigos. Claro que nos treinos eu não consigo fazê-lo todo acompanhado. Às vezes, num treino mais longo tem sempre os amigos juntos que estão incentivando, estão sempre ajudando. É uma forma de se incentivarem e buscar um objetivo maior”, diz.
Por fim, ter objetivos traçados é um conselho do cardiologista. “Por exemplo, quem está treinando corrido, tem que estar pensando numa prova que se quer fazer. Uma São Silvestre, uma meia maratona, uma maratona. Se a pessoa não tiver objetivos, ela só treina e desestimula. O objetivo vai trazer para você a questão da disciplina, do foco. Porque tem dias que você está com preguiça mesmo, não quer treinar e fica em casa. Se tiver uma prova, uma competição, você sabe que precisa treinar”, finaliza.
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fonte:
http://diariobotucatu.com.br/geral/cardiologista-perde-64-quilos-com-cirurgia-e-atividade-fisica-e-vai-disputar-o-iron-man-neste-ano/