Nascido
na Argentina, mas vivendo no Brasil há 13 anos,
o rabino Adrian Gottfried sempre foi esportista, praticando
as mais diversas modalidades. Hoje, apesar de praticar
tênis e futebol, adotou a corrida como seu esporte
principal e conta com a família participando:
“Sou casado com Mariana e tenho três meninos:
Yair de 13 anos, Eitan de 10 e Ionatan de 5 (os três
brasileiros porém torcedores de Boca Juniors).
Eles participam regularmente das provas infantis da
Corpore e tem o maior orgulho do seu pai corredor. O
mais velho é um excelente jogador de futebol
e o pequeno após cada prova fala que a medalha
é dele”.
E
a paixão pelo esporte foi tanta que ele até
resolveu, dentro de sua comunidade, criar a Corrida
Shalom – a corrida pela Paz – que
chega em 2004 a sua 4ª edição, terá
parceria com a Corpore e será disputada no dia
5 de dezembro, na USP, com corrida infantil, além
de uma corrida de 6K e caminhada de 3K. “A nossa
corrida além de ser um hobby compartilhado também
se tornou uma necessidade para o orçamento da
OAT que permite
que mais de 100 deficientes se transformem em aprendizes
e possam ter uma inclusão social”, afirma
Adrian
Poderemos,
a seguir, conferir um pouco mais da história
desse rabino que nunca deixou de estar envolvido com
o judaísmo e o esporte.
Há apenas 13 anos você veio morar
no Brasil. Como foi sua vida na Argentina?
Eu nasci em Buenos Aires e quando criança frequentava
o clube a Hebraica de lá. Representava o clube
em várias modalidades esportivas entre ela as
equipes de futebol de salão e campo, luta livre
e até water pólo. Após a adolescência,
pelo embalo dos estudos judaicos e gerais e meu trabalho
comunitário, parei com a atividade esportiva
regular.
Desde
cedo você já teve essa predisposição
ao esporte, mas e quanto a vida religiosa? Quando você
percebeu que se tornaria um rabino?
Aos 15,16 anos tinha bastante certeza que gostaria de
fazer e a minha vocação está diretamente
vinculada à figura de meu mentor e mestre, o
Rabino Marshall Meyer. Ele me mostrou que era possível,
como em suas próprias palavras, ‘ter uma
mão na Bíblia e outra no jornal do dia’
e, através de seu carisma, eu escolhi estudar
para rabino porque como sou um apaixonado pelo judaísmo
queria um trabalho que poderia conciliar meus afazeres
com a tradição espiritual judaica e assim
poder ter os feriados judaicos para comemorar em família,
como via na casa do meu rabino e diferentemente de meu
pai, que era farmacêutico e tinha que dar plantão
obrigatório em diferentes festas hebraicas.
Como
é o processo para se tornar um rabino?
Primeiro tem que estudar numa faculdade e fazer pos-graduação
e depois entrar na escola rabinica que dura de cinco
a seis anos, sendo que no último os estudos são
feitos em Israel, seja para conhecer a cultura de lá,
seja pela especialização.
Agora
que você já é um rabino, como é
seu dia-a-dia?
Na verdade, a rotina de um rabino é que não
tenho rotina. Uma parte do trabalho é acompanhar
as famílias da minha comunidade em momentos de
alegria como casamentos, nascimentos e bar e bat mitzva
e também apoiar e ajudar nos momentos dolorosos
quando a doença aparece e consolar nos momentos
de luto. Liderar os serviços religiosos diários,
semanais e dos feriados judaicos também fazem
parte das minhas preocupações, além
de ministrar aulas, já que a essência de
ser rabino é ser um mestre que oferece oportunidades
de estudo para todas as faixas etárias.
Como
começou seu interesse pela corrida?
No final de 2000 estava muito gordinho e comecei a treinar
no Parque do Ibirapuera após desistir de jogar
tênis porque não conseguia conciliar meu
trabalho com jogos nem aula. No início, corria
sozinho, dependia só de mim e gostava da energia
que recebia.
E
quando resolveu deixar de correr sozinho para participar
de provas?
Um amigo me levou para participar de uma prova da Corpore
em fevereiro de 2000, 6K em no Ibirapuera e para mim
foi muito especial porque quando recebi a medalha, me
senti como se estivesse em Sydney (naquele ano a
sede das olimpíadas) e daí para frente
comecei a correr provas de 8, 10, 12k até que
em outubro de 2000 me incorporei a MPR e corri esse
mesmo ano a minha primeira São Silvestre.
Daí para frente, fiz meia maratona e minha primeira
Maratona seria em Nova York, porém pelo atentado
decidi correr a Maratona de Florianópolis em
2001, depois corri em 2002 Porto Alegre e Chicago, em
2003 Nova York e em 2004 estou treinando para Curitiba
Quanto
você treina semanalmente?
De 3 a 4 vezes por semana sendo que meu treino longo
é de sexta-feira porque no sábado estou
na sinagoga
Como
você concilia todos os seus afazeres com a corrida?
Na verdade, como a corrida pode acontecer em qualquer
momento do dia, ela é parte dos malabarismos
para conciliar as diferentes responsabilidades
O
que o motiva a correr?
No começo, a motivação era para
perder alguns quilos, mas depois se tornou um saudável
vício. É um dos momentos mais importantes
para mim e nesse ponto coincido com o meu treinador
Marcos Paulo Reis que me fala que a Maratona é
um assunto mais espiritual que físico, corre-se
com o coração não com as pernas.
Para mim, a corrida é um exercício altamente
espiritual e um dos motivos mais fortes está
numa frase que recebi após completar a minha
primeira Maratona que explica que ‘o milagre não
é conseguir terminar a prova, o verdadeiro milagre
é ter a coragem para começar...’
Você
tem idéia de quantas provas já correu?
Vou para a 5 Maratona, 15 meias e muitíssimas
provas curtas
Qual
a prova marcou sua memória, a mais especial?
A minha primeira Maratona em Floripa, quando vi meus
filhos e a minha mulher foi um momento especial.
Já conseguiu "converter" alguém
para a corrida?
Eu tenho inúmeros exemplos desde pessoas de minha
comunidade que começaram a treinar para participar
melhor de nossa Corrida Shalom, a corrida pela paz,
e acabaram se tornando maratonistas, até aqueles
que ao ver o rabino correr, decidiram começar
a frequentar minha sinagoga porque gostaram que o líder
espiritual desse o exemplo. Na nossa prova nós
distribuímos uma reza em hebraico que, na tradição
Judaica, podemos rezar antes de uma grande prova, como
uma Maratona. O texto fala 'Baruch atah Adonai Eloheinu
melech haolam hanoten laiaef coach', que significa 'Bendito
sejas Tu, Eterno nosso Deus, Rei do Universo, que dás
vigor ao cansado'. Várias vezes no parque Ibirapuera
fui parado por muitos corredores que me falaram que
ao encontrar o “muro” a benção
judaica os ajudou a superar o obstáculo.
A
corrida Shalom tem como uma das finalidades angariar
fundos para a OAT. Quais outros projetos sociais vocês
têm em andamento?
O rabino hoje tem que se preocupar com angariar
recursos para os trabalhos filantrópicos de nossa
comunidade, já que que só funcionam através
de donativos. Além da OAT ainda temos na oportunidade
de vagas no mundo do trabalho nossa audioteca, que ajuda
a deficiente visuais, e com nosso grupo de healing,
que busca promover o Healing pessoal e comunitário,
contribuindo para a reconexão da pessoa com seus
recursos espirituais visitando a doentes, enlutados
ou pessoas que necessitem de apoio entre outros.
Tem
algum conselho para quem está começando
no esporte?
Tem que começar devagar, um passo de cada vez.
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