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Em
janeiro lançamos aqui no site uma série
de reportagens com nossos Diretores voluntários
– pessoas que fazem da Corpore uma entidade
diferente das outras. Nosso entrevistado do momento
é o responsável pelas medições
das provas, José Rodolfo Eichler, IAAF/AIMS
‘A’ Measurer, Administrador de Medição
da América do Sul e Membro do Conselho
Deliberativo Corpore. Conheça um pouco
mais sobre a história deste corredor, que
com seu trabalho trouxe para o Brasil a qualidade
das corridas internacionais.
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Em 1991, Rodolfo
Eichler mudou-se do Rio de Janeiro para São
Paulo para trabalhar em duas empresas de engenharia.
E foi neste ano que correu sua última maratona,
em Blumenau. No total foram treze. Devido ao ritmo
puxado que sua profissão lhe impôs
nesse ano, Rodolfo passou apenas a correr em provas
menores, sem participar das organizações
– como fazia desde 1979. Entretanto, passado
um tempo, se engajou com a Corpore, para medir
os percursos de suas provas. “Vitor Malzone,
Julio Deodoro, e o Vasco - ex-diretor técnico
da Corpore - são as três pessoas
que criaram a base do que é hoje o movimento
de corrida, devido à seriedade com que
trabalhavam, desde os primeiros anos”.
Rodolfo conta que foi coordenador
da Maratona do Rio até sua última
edição (pelo Jornal do Brasil),
e que depois, ela sofreu algumas metamorfoses.
Estas mudanças fizeram com que ela perdesse
sua identidade, algo que Rodolfo aponta como fundamental
para caracterizar uma grande prova. “As
grandes provas precisam ter conceito, precisam
ter um espírito por trás delas.
Assim é com a Maratona de Nova York, de
Boston – nos EUA, com a São Silvestre,
com a São Paulo Classic da Corpore, com
a Meia Maratona Corpore, aqui no Brasil”.
Este é o trabalho desenvolvido pela entidade:
fazer com que as provas gerem histórias,
disse Rodolfo. Acrescentou também que quando
o atual presidente David Cytrynowicz assumiu,
juntamente com a atual Diretoria, em meados da
década de 90, a cara da Corpore mudou,
evoluiu.
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"A atual diretoria da Corpore trouxe
um fator novo para a corrida de rua, que foi
este espírito do novo, do desafio,
da aventura. Campos de Jordão, Ilhabela,
largada dual, largada feminina anterior à
geral. Isso tudo, sempre com o uso da tecnologia
mais nova. Aceitar este desafio como parte
do processo é o grande diferencial
da Corpore, além de não executar
provas por demanda, nem por encomenda".
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Ivan
G. Junior - medidor credenciado - (esquerda)
junto a outros medidores |
Foram
cerca de vinte anos de história, desde
1979, que do começo nem tênis
próprio existia para o corredor. A
medição não era legal,
as classificações de algumas
provas daquela época nunca saíram.
“Hoje chegamos a um ponto de equilíbrio
de ter um órgão como a CBAt
(Confederação Brasileira de
Atletismo) – que se preocupa em criar
as instruções e regulamentos
necessários – assim como as Federações
regionais e organizadores de corridas, como
a Corpore, para realizar provas de nível
internacional”. |
Rodolfo avalia que o fato do Brasil sediar os jogos
Pan-Americanos de 2007 mostra que estes anos foram
fundamentais para que este espaço fosse conquistado.
“O próprio corredor teve estes vinte
anos pra evoluir na sua postura, no seu profissionalismo,
no seu acompanhamento técnico, na sua alimentação,
etc. A Corpore também teve esse tempo, para
criar este cenário ideal, que possibilita
ter hoje, uma vez por mês, uma prova realmente
bem feita”. |
Os
critérios de medição
pouco mudaram nestes vinte anos. Foi o americano
Ted Corbitt, que a pedido do Clube de Corrida
de Nova York, bolou o sistema de pontos, que
é usado até hoje. Antes, era
usada a roda calibrada, que a cada virada
mede um metro. O uso de moto ou carro para
realizar a medição causa erros
muito grandes, segundo Rodolfo. A bicicleta
parecia ser o ideal, pois ela pode ser mantida
em caminho retilíneo, e tirar a tangente,
a procura do caminho mais curto. |

Exemplo
de trajeto sem tangentes
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Faltava
então, um instrumento que pudesse
ser adaptado à roda da bicicleta
e que fosse certificado, ou seja, atendesse
os requisitos para os quais foi projetado,
e com total efetividade. A partir desta
necessidade, Alan Jones, corredor e pequeno
industrial, se responsabilizou pela fabricação
deste aparelho – que foi usado pela
primeira vez na Maratona Olímpica
de 1976.
Ao
longo dos anos, foram feitas algumas mudanças
no material deste modelo, mas sua concepção
não foi alterada. “Ele não
mede nem centímetros nem metros,
mas a quantidade de pontos numa determinada
distância” explicou Rodolfo. |

Representação
do aparelho acoplado à roda da bicicleta |
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O que se faz é a marcação de
mil metros no chão (com fita de aço
calibrada), e então é feita uma associação
com a quantidade de pontos que um quilômetro
tem idealmente e, então, dependendo do peso
do ciclista, do peso da bicicleta, da pressão
dos pneus, “Você pedala por essa distância
e calcula a quantidade de pontos. A cada vez que
você passar por tal quantidade de pontos,
significa que andou um quilômetro” disse
o medidor. Este processo, de calibragem do aparelho,
é realizado no inicio e no final na medição.
Pessoas diferentes apresentam quantidade de pontos
diferentes, entretanto, sempre uma quantidade equivalente
a um quilômetro. Inclusive, segundo Rodolfo,
os medidores usam deste recurso para certificarem
que a medição foi feita corretamente.
“Este processo implica que a pessoa tenha
muita autocrítica, para que aceite refazer
aquilo que não ficou bem feito. Precisa de
capricho para que a prova fique na medida exata”.
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Marcação
do chão com a fita de aço - Isolamento
da área pela polícia
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Explicação da montagem
do aparelho à roda da bicicleta |
Saiba
mais no site da AIMS
Primeira
Maratona Corpore – Uma prova singular |
A
Primeira Maratona Corpore acontecerá inserida
dentro de um grande evento que já ocorre
desde 2000 – a Meia Maratona Corpore, e os
6k Corpore/Exército Brasileiro. Seu percurso
será em loop – duas voltas no percurso
da Meia Maratona. Segundo Rodolfo, o loop concentra
a prova, ou seja, concentra o público, a
família num único lugar. “Trazer
as pessoas para um parque, possibilita que elas
se sentem embaixo de uma árvore e acompanhem
o evento, sem necessidade de deslocamento para a
largada, como acontece em Nova York. As primeiras
Maratonas do Rio também foram assim, no parque
do aterro do Flamengo, então, de certa maneira,
estamos resgatando aquela tradição”.
Muitas provas ao redor do mundo estão sendo
feitas deste modo, e em provas de revezamento este
modelo é fortemente recomendado, informou
Rodolfo.
Sobre
os modelos de percursos, Rodolfo citou além
do loop, os de ponto a ponto - quando suas situações
de largada e chegada, são distantes em
mais de 10k -; que também são comuns,
mas que levantam preocupações diferentes,
como a influência do vento. “Numa
prova de rua, ninguém se preocupa com o
vento, mas nas provas de pista, de velocidade,
a IAAF já desconsiderou recordes por esta
ajuda das correntes de ar. Não é
verdade que o percurso em loop piore o resultado.
Na verdade evita que a prova se torne monótona,
ou que apresente uma logística complicada
e assistência dispersa. Ele facilita inclusive
o trabalho do órgão de trânsito,
pois evita que seja necessário um grande
contingente de funcionários e de material”.
Rodolfo
Eichler contou que o trabalho pra planejar
esta prova é grande, mas que seu
perfil não é desvantajoso
para a organização. “A
Corpore tem a característica de buscar
desafios, e o associado Corpore gosta disso,
caso contrário as corridas não
estariam sempre cheias. Acredito que o corredor
vai apreciar bastante este evento e a proximidade
de sua família - que poderá
acompanhar melhor a prova”.
Os
diretores da Corpore têm no sangue
o espírito da aventura, contou Rodolfo,
“e o público tem gostado”.
Numa maratona em loop, os cortejos devem
ser muito bem monitorados, feito por pessoas
experientes, assim como os batedores da
Polícia Militar. “Tudo isso
está no projeto de planejamento da
Maratona da Corpore. |
Equipe
de Medição - membros brasileiros
e americanos juntos |
Da
mesma maneira, A CET também participa da
concepção, não meramente
para liberar as ruas para o acontecimento da prova,
mas também para que participem das soluções,
colaborem, e possam monitorar o evento, com maior
domínio”.
A
complexidade da organização atinge
até mesmo o controle das ultrapassagens
dos corredores mais rápidos sobre os mais
lentos. Além disso, simultaneamente, vai
ser realizada a Meia Maratona, e uma prova de
6k. “A parte técnica é desafiadora,
mas vai ficar bonito como um festival. Sem dúvida
será mais difícil de realizar, mas
trará uma satisfação maior
para todos”.
A
dificuldade não impossibilita sua realização.
Este espírito de aventura da Corpore irá
permitir que seja introduzida a largada dual,
também baseada no modelo de Nova York.
“Para aumentar o conforto do corredor, abriremos
dois pontos de largada, paralelos e igualmente
medidos, que irão convergir para um ponto
comum do percurso. Que dá trabalho, dá!
Mas isto é o melhor para o corredor”.
Além
da largada dual, três corridas simultâneas
e percurso em loop, já apontados por Rodolfo,
o que também diferencia esta Maratona da
Corpore, são outras preocupações
com o conforto do corredor. Entre elas, o horário
de início (7 horas da manhã), o
caminho todo arborizado, a compatibilidade com
um calendário anual, o percurso considerado
flat (plano) que é mais confortável
para assistência do atleta. Além
disso, corredores de diferentes níveis
poderão participar do mesmo evento.
O
sistema do chip será implantado de forma
completa – na largada, chegada e em pontos
diversos do percurso, para todas as provas. Sua
estrutura médica
será pioneira, e o percurso será
totalmente fechado ao trânsito – por
ser concentrado na área de parque, será
vedado aos ciclistas que atrapalham os corredores
durante a prova.
A altimetria da Maratona não
apresenta nenhuma elevação significativa.
Não há elevações acima
de cinco metros, e as que acontecem são
das pontes pelas quais o corredor tem que passar,
disse o medidor. Rodolfo acredita que a Meia Maratona
irá motivar o resultado da Maratona, e
explica: “Como a Meia é corrida pra
01:03:00, o corredor da Maratona vai acabar sendo
puxado pela cabeça da prova da Meia Maratona.
O tempo da Meia Maratona para a Maratona deve
ficar em torno de 01:04:00 e 01:05:00. Isso projeta
um tempo total muito bom para a Maratona, que
pode ficar até 02:10:00/ 02:12:00”.
Mas o medidor explica que isso vai depender do
preparo dos corredores.
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Durante
a visita de Cooper ao Brasil, em 1976, Rodolfo Eichler
começou a correr, preocupado em manter sua
saúde em dia. Corria sem grandes pretensões,
e sem grande envolvimento com o movimento da corrida
de rua. Isso mudou em 1979, quando foi realizada
a Primeira Corrida de Rua do Rio de Janeiro, cidade
onde morava na época. “Este foi o ano
de início dos tempos modernos da corrida
de rua no Brasil. Foi uma corrida muito pitoresca,
de 8km, cujas inscrições foram vendidas
numa barraquinha de sorvete. Tudo muito improvisado”.
No
mesmo ano, a corredora Eleonora Mendonça
(que representou o Brasil, na primeira maratona
feminina das Olimpíadas) montou uma empresa
de organização de corridas –
chamada Printer - com a experiência que
trouxe de sua estada nos EUA. Organizou, então,
a primeira Maratona Internacional do Rio de Janeiro.
“Nesta ocasião, vi no noticiário
que a vencedora foi uma conhecida minha –
Ivanise Lins e Barros. Com a influência
positiva da Ivanize, passei a me encontrar todo
domingo, nas Paineiras no Rio, com um grupo de
corredores, liderados pelo jornalista José
Inácio Werneck” contou o Conselheiro
da Corpore.
Neste
período nasceram a CORPORE em São
Paulo e sua equivalente no Rio de Janeiro,
a chamada Corja. Com apoio do Jornal do Brasil,
outra maratona se organizou além da
realizada pela Printer em 1979: a Maratona
do Rio, já em 1980. Durante cerca de
sete anos, o Rio de Janeiro teve duas maratonas
por ano, devido à explosão no
movimento da corrida de rua, mesmo estas provas
tendo organização não
muito profissional. “As distâncias
eram aproximadas, a cronometragem era manual,
a classificação era demorada,
etc”. O
atual presidente do Clube de Corrida de
Nova York, Allan Steinfeld, era, naquela
época, o Diretor da Maratona de Nova
York. Em 1980, ele fez o pedido ao jornalista
José Inácio Werneck para que
a Maratona do Rio também tivesse
um medidor, para que ela pudesse se filiar
a AIMS (Associação de Maratonas
Internacionais) – que estava nascendo
naquela época.
Orientação
para os ciclistas encarregados da medição<- |
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Rodolfo
realizando uma medição |
A
AIMS formou-se a partir de um grupo de diretores
de provas, que criou uma entidade para que
houvesse um padrão único,
de boa qualidade, das corridas. “Então,
José Inácio me indicou, não
apenas para continuar fazendo a apuração
das corridas, mas também para me
preparar para fazer medição.
Em 1981, o próprio Alan Steinfeld
veio ao Brasil para me ensinar como fazer
a medição da Maratona”
– contou Rodolfo.
Já
em 1982, a Maratona do Rio foi filiada à
AIMS e medida seguindo seus padrões.
“Nessa época, por fazer uma
parte grande do trabalho, tornei-me o Coordenador
Técnico da Maratona do Rio. Mesmo
assim, a época ainda era romântica,
e além de trabalhar, eu também
corria essas provas. Hoje não é
mais possível fazer isso”.
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Seminários
- formação de novos medidores
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IAAF
– AIMS – FPA |
Ao
falar sobre a regulamentação das provas,
Rodolfo aproveitou para explicar melhor como funciona
a coordenação e a distribuição
de responsabilidades entre os órgãos
internacionais, federais e regionais. |
IAAF:
Versa sobre todos os eventos de atletismo. |
AIMS:
Versa apenas sobre a corrida de rua. |
CBAt/Br:
Subordinada à IAAF, juntamente com
todas as confederações de cada
país. |
FPA
– Federação Paulista de
Atletismo/BR: Subordinadas às confederações
nacionais estão as federações
Estaduais/regionais. |
O
novo regulamento de corridas de rua da CBAt, que
deverá sair nos próximos dias tende
a ter seis itens obrigatórios:
1-
o percurso medido (pelos padrões da
AIMS) |
2-
o tempo de todos os corredores cronometrados |
3-
a classificação dos corredores
deve ser conhecida |
4-
o percurso deve ter assistência médica |
5-
percurso deve ser fechado ao trânsito |
6-
deve haver policiamento nas áreas de
concentração |
Este
documento trará novos sistemas de taxação,
cujos termos implicam que uma entidade, para realizar
uma prova, terá que pagar um Alvará
para a Federação local ou uma taxa
para a CBAt. Não haverá dupla tributação.
A decisão será feita conforme o
nível da prova:
Nível
1 – Internacionais – “permit”
para CBAt |
Nível
2 – Nacionais – “permit”
para CBAt |
Nível
3 – Regionais – alvará
para FPA |
Rodolfo
contou que todas as provas da Corpore seguem os
padrões oficiais. Algumas delas, como a
10 K São Paulo Classic, Meia Maratona e
Maratona são oficializadas pela CBAt e
IAAF. A 10K São Paulo Classic, também
é oficializada pela AIMS. “As demais
corridas do calendário são feitas
com o mesmo capricho, mas como são provas
locais, não há a oficialização”.
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